Sindicato protesta contra "Resex Legal"

"A operação do Ibama é uma violência contra os trabalhadores".



A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Derci Teles de Carvalho, não poupou críticas à operação Resex Legal cuja primeira etapa foi encerrada na última sexta-feira (12) por Ibama e Polícia Federal. Alguns ocupantes em situação irregular dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes foram notificados a deixar a área de conservação em 30 dias.

A sindicalista culpa o governo e o próprio órgão ambiental pela transformação de várias áreas da Reserva em pastagens para gado e diz que o governo federal tem de dar tempo e oferecer alternativas para que as pessoas possam regularizar suas situações, retirando o gado de suas colocações e reflorestando as áreas desmatadas ao longo dos anos.

"Não podem querer corrigir de forma imediata um erro de 18 anos, do qual eles mesmos são os principais culpados. Todo mundo tem direito de defesa e com os trabalhadores não é diferente. Eles investiram dinheiro nas suas localidades e muitos que ali estão são pessoas humildes que têm ali toda a razão de suas vidas", disse ela.

Derci informa que o sindicato está sendo procurado por vários ocupantes notificados e que está orientando-os a apresentar defesa junto ao Ibama. Ela afirma também que está contatando os demais sindicatos de trabalhadores rurais dos municípios abrangidos pela Resex para juntos organizaram um manifesto contra a ação do órgão federal.

O superintendente do Ibama no Acre, Anselmo Forneck, respondeu afirmando que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri também tem responsabilidades com relação à situação da Reserva Extrativista Chico Mendes por não ter cumprido o seu papel como membro do Conselho Deliberativo da Resex, onde votou a favor da operação Resex Legal.

"O sindicato de Xapuri é co-responsável pela situação da Reserva por não ter cumprido também com o seu papel. O sindicato faz parte do Conselho Deliberativo da Resex e votou a favor desta operação, então eu não posso admitir que alguém tenha no Conselho uma posição e depois, unilateralmente, tome outra posição. Se querem defender os fazendeiros então estão no sindicato errado", disse Forneck.

Sobre essas afirmações do superintendente Anselmo Forneck, a presidente do Sindicato de Xapuri disse que a deliberação sobre a operação Resex Legal aconteceu durante a gestão que lhe antecedeu e que não se responsabiliza por decisões tomadas por administrações passadas. "Sem me certificar de alguns detalhes da operação eu não teria assinado", afirmou.

Anselmo Forneck reafirma que a operação é absolutamente legal e está rigorosamente dentro daquilo que foi decidido pelo Conselho Deliberativo da Reserva. Ele garante que somente serão retirados da da área os ocupantes que não apresentam nenhuma condição para firmarem os Termos de Ajustamento de Conduta. Eles são comerciantes em Xapuri e Brasiléia que se aventuraram a ter uma área na reserva.

Na próxima quarta-feira, dia 17, Derci Teles e Anselmo Forneck terão a oportunidade de discutir as divergências. O superintendente se reunirá em Xapuri com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, com o prefeito eleito, Ubiracy Vasconcelos, e com representantes de associações, cooperativas e outros interessados para prestar esclarecimentos sobre as próximas etapas da operação.

Resultados preliminares desta primeira etapa da operação Resex Legal revelam que foi encontrada uma área desmatada de 2.923 hectares com 4.524 cabeças de gado. Foram encontrados também 27 ocupantes em situação irregular, sendo que 5 estavam em situação completamente ilegal e foram imediatamente notificados a abandonar a área.

O gestor da reserva, Sebastião Santos da Silva, responsável pela coordenação do trabalho que durou 15 dias, informa que existem cerca de 300 famílias vivendo na área de forma irregular, mas que muitas delas podem ter a situação regularizada caso cumpram às normas de permanência. Outras, terão inevitavelmente que deixar a Reserva, explica ele.