segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Darly Alves: "Não mandei matar Chico Mendes"
Na quinta-feira da semana passada, dia 18 de dezembro, levei o jornalista Altino Machado até a fazenda Paraná, na BR-317, a 25 km de Xapuri, onde cumpre prisão domiciliar o fazendeiro Darly Alves da Silva, condenado há 18 anos como o mandante do assassinato de Chico Mendes, morto com um tiro de escopeta no peito, na porta dos fundos de sua casa, há exatos 20 anos.
Altino havia feito algumas tentativas infrutíferas de agendar uma entrevista com Darly para o Blog da Amazônia por intermédio de um dos filhos do fazendeiro, Oloci Alves, com quem chegou a conversar em Rio Branco. Recorreu a mim, que havia falado com o fazendeiro há cerca de um mês na delegacia de Xapuri, quando este foi denunciar o próprio filho, José Góes, acusado de matar a madrasta, Francisca Vanderléia, última mulher de Darly.
Naquela ocasião, depois de falar sobre o assassinato da mulher, Darly manifestou o desejo de ter espaço na mídia para contar sua versão sobre o caso Chico Mendes. Chegou a dizer que tinha vontade de ver sua história narrada em livro. Achei que o interesse do jornalista em entrevistá-lo seria um boa oportunidade para o fazendeiro trazer à luz algo de novo sobre a sua conhecida história.
Ao chegar à fazenda Paraná fomos recebidos por Guinaldo, o mais novo dos cinco filhos de Darly com a sua primeira mulher, Natalina. Desconfiado, disse que não nos levaria à presença do pai que, segundo ele, costuma ter as afirmações mal interpretadas pela imprensa, chegando a ser prejudicado por conta de informações distorcidas ou inverídicas. "Jornalista, eu não confio em nenhum", disse na nossa cara.
Guinaldo relata que a declaração que Darly fez ao repórter da Rede Globo, Ernesto Paglia, levada ao ar há duas semanas, afirmando que "Chico Mendes ninguém matou, quem se matou foi ele mesmo", aconteceu em janeiro de 2008 e que a emissora omitiu essa informação do telespectador. "Isso foi prejudicial para o pai", afirmou ele.
Argumentei que nossa intenção não era prejudicar Darly e que o fato de eu residir em Xapuri e trabalhar na Rádio Educadora 6 de Agosto seria garantia de que não publicaríamos nada que comprometesse ou desagradasse o fazendeiro. Altino, já temendo haver perdido a viagem, apelou: "Você poderia dizer a ele que nós queremos apenas conversar". Depois de pensar por alguns segundos, ordenou que Osmar, filho de Oloci, fosse até Darly informar de minha presença e de "um outro de Rio Branco".
Minutos depois o mensageiro retorna informando que Darly vem nos atender. Somos convidados a entrar e logo chega o homem que veio para o Acre em 1974 para se tornar, ao lado do irmão Alvarino, um dos mais bem sucedidos e respeitados pecuaristas da região de Xapuri. O aspecto físico e a maneira simples de se vestir e falar não o remete à fama de homem violento que o tornou uma das pessoas mais temidas do Acre.
Ao nos cumprimentar deixou claro que não concederia entrevista, alegando que isso não o ajudaria em nada e ainda poderia o prejudicar, relembrando o episódio em que fora mal interpretado pelo repórter da Globo. "Eu falei aquilo com base nas escrituras sagradas, que dizem que quem atiça a ira do outro também comete homicídio. Censuraram mal e eu peço desculpas à família de Chico Mendes", disse ele.
A firme intenção em não dar declarações foi sucumbindo frente à insistência de Altino Machado que aos poucos foi conseguindo fazê-lo ficar mais à vontade e responder algumas perguntas com gravador desligado. Porém, quando Altino tentou ligar o equipamento, Darly se enervou subitamente e quase coloca fim à conversa.
"Vou embora", afirmou se dirigindo ao filho Guinaldo, "já falei que não quero entrevista", e virando-se para mim: "Eu venho aqui lhe atender e você traz um comparsa. Você tá cumpliciando?", perguntou demonstrando aborrecimento. Digo-lhe que havia explicado a Oloci a minha intenção e que iria acompanhado de Altino que, por sua vez, coloca a mão no ombro de Darly e recomeça o trabalho de convencê-lo a deixar que ligue a câmera fotográfica no modo de filmagem para que ele possa expor as razões para não conceder a entrevista.
Mais confiante e à vontade com a nossa presença autorizou que a câmera fosse ligada e falou por cerca de 15 minutos. Se mostrando ainda abalado com a morte de Francisca Vanderléia, a "Léia", com quem se relacionava há cinco anos, Darly afirmou que tem a intenção de deixar o Acre para viver em Brasília, onde cumpriu parte de sua pena, que tem previsão de acabar somente em 2015. Sobre os comentários de que o governo prentende transformar a área em um pólo agroflorestal, disse que pode vender suas terras caso lhe ofereçam um preço justo.
Sobre a família de Chico Mendes, Darly diz que acredita que nenhum deles lhe guarda rancor e voltou a afirmar que não mandou matar o seringueiro. Sobre a suposta promessa de Darci de que iria revelar os nomes dos demais mandantes quando o crime completasse 20 anos, disse não lembrar se o filho fez essa promessa:
- Eu perguntei muitas vezes a mesma coisa, mas ele sempre ficou calado. Eu dizia que poderia ser beneficiado se ele revelasse quem mandou matar o Chico Mendes, mas nada. O que posso dizer é que nunca paguei advogado pro Darci. Alguém pagou. Não sei se foi o falecido Gastão Mota, o falecido ex-prefeito Adalberto Aragão, coronel Chicão ou outro qualquer - afirmou.
A íntegra da gravação feita por Altino Machado está disponível em Terra Magazine e a transcrição da entrevista está no Blog da Amazônia.
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