A programação da Semana Chico Mendes tomou conotação de festa. No seringal Cachoeira, ontem, a comunidade onde o líder ambiental nasceu há 64 anos realizou corridas pedestres, torneios de futebol e dominó e outras atividades para celebrar os 20 anos de ausência do filho ilustre.
Na cidade, há uma movimentação atípica de pessoas, que cresce com a aproximação do dia 22, data da morte do seringueiro. No entorno da Fundação e da Casa de Chico Mendes, tapumes tentam esconder dos visitantes a feiúra dos muitos buracos espalhados pelas duas ruas que dão acesso aos dois locais.
"Xapuri parece uma Bagdá", disse um visitante se referindo à situação em que a cidade de Chico Mendes se encontra 20 anos depois de sua morte. Um tímido trabalho de tapa buracos está sendo realizado na tentativa de mascarar a realidade e o cemitério onde está sepultado o líder sindical, até pouco tempo tomado pelo matagal, está sendo limpo.
Na fábrica de preservativos do governo do Estado, a entrega do primeiro lote de camisinhas para as campanhas de prevenção à Aids foi considerada a realização do sonho de Chico Mendes. "Onde o Chico estiver, está dizendo: nós vencemos", disse o governador Binho Marques.
A igreja de São Sebastião também está sendo retocada para receber a celebração religiosa em memória de Chico Mendes, que será presidida pelo bispo Dom Joaquim, no próximo dia 22. A pintura total da igreja, com uma ajuda de R$ 45 mil do governo do Estado, está deixando o pároco Francisco das Chagas feliz da vida.
"A igreja está ficando bonita", diz o padre que também está empenhado nos preparativos de mais uma grande festa, desta vez uma das maiores do Acre, a Festa de São Sebastião , padroeiro da cidade, no dia 20 de janeiro, que chega a atrair para Xapuri cerca de 20 mil pessoas ao final do novenário.
Na Fundação Chico Mendes e na Casa onde viveu e morreu o líder, Elenira Mendes atende aos visitantes com a ajuda de belas e educadas jovens xapurienses. Ontem, recebia a equipe do cineasta Adrian Cowell, que está doando o seu acervo sobre a luta de Chico Mendes ao governo do Estado.
Ainda ontem foram exibidos no auditório da Fundação Chico Mendes os documentários "Eu quero viver" e "O sonho de Chico Mendes", de Cowell e Vicente Rios. Hoje, dia 19, será lançado em Xapuri, no sindicato dos Trabalhadores Rurais, o livro "Vozes da Floresta", organizado por Zezé Weiss.
Quem não está em clima de festa é a direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, instituição que mais se relaciona ao nome de Chico Mendes. Derci Teles, a presidente, se diz desprestigiada pela organização da Semana Chico Mendes e denuncia perseguição do Ibama aos seringueiros que criam bois na Reserva Chico Mendes.
- Não faz sentido celebrar Chico Mendes quando seringueiros são perseguidos pelas multas e ameaças do Ibama. Quem diz que defendo fazendeiros está mentindo. O que acontece é que os seringueiros passaram a criar bois para complementar a renda porque somente o extrativismo não garante a sobrevivência deles, diz.
Derci Teles esclarece, no entanto, que protesta contra a ação do Ibama contra seringueiros tradicionais que se excederam na prática da pecuária, mas que não é contra a retirada daqueles que estão em situação realmente irregular, como é caso de alguns comerciantes que se aventuraram a adquirir áreas dentro da Reserva, apesar de reconhecer que mesmo esses merecem um tratamento mais respeitoso.
Pró-Acre
Como parte integrante dos eventos em homenagem ao ambientalista Chico Mendes, o governo do Acre tomou hoje, em solenidade que aconteceu na sala das audiências do Palácio do Planalto, às 12 horas, com a presença do presidente Lula, empréstimo junto ao Banco Mundial no valor de US$ 120 milhões destinados ao Projeto de Inclusão Econômica e Social (ProAcre). O objetivo do ProAcre é promover o desenvolvimento sustentável, com medidas sociais e ambientais, favorecendo a melhoria da qualidade de vida dos habitantes das áreas rurais num prazo previsto de seis anos e com o objetivo de beneficiar diretamente cerca de 170 mil famílias. No total, serão investidos US$ 150 milhões em serviços básicos e estruturantes para as comunidades mais isoladas do Acre. Destes, US$ 120 milhões serão provenientes do Banco Mundial e US$ 30 milhões do governo estadual.
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