Sindicato de Trabalhadores Rurais de Xapuri recebe Anselmo Forneck e repudia a operação do Ibama
O gerente regional do Ibama no Acre, Anselmo Forneck, esteve em Xapuri nesta quarta-feira para discutir com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Associações de Produtores do município a continuidade da operação “Resex Legal”.
Na pauta esteve também a discussão sobre como serão resolvidos os casos dos ocupantes que estão em situação irregular na Reserva Extrativista Chico Mendes, mas que podem se enquadrar às exigências para a permanência na área.
Estiveram presentes ao encontro com os trabalhadores o prefeito eleito de Xapuri, Bira Vasconcelos, Derci Teles, presidente do Sindicato, o deputado estadual Chagas Romão e o vice-presidente da Fetacre, Raimundo de Barros.
Há alguns dias, Derci Teles e Anselmo Forneck trocaram farpas, através da imprensa, em razão de divergências sobre a operação que visa expulsar ocupantes ilegais da Reserva. Derci tachou ação de violência contra os trabalhadores e Forneck classificou de irresponsável a postura da entidade.
Hoje, Forneck teve que engolir uma nota de repúdio contra a operação, que foi lida em voz alta pela presidente. A nota foi aprovada por unanimidade pelos associados presentes ao encontro, que aconteceu no auditório do próprio Sindicato.
Constrangido, Anselmo chegou a pedir que a nota não fosse divulgada para a imprensa. Alegou que não cairia bem que isso acontecesse durante a programação da Semana Chico Mendes. Em vão. O documento foi enviado para alguns jornalistas.
A seguir, a íntegra da nota do Sindicato:
NOTA DE REPÚDIO
Comemorar a semana Chico Mendes com repressão aos seringueiros, sem dúvida é manchar toda a luta que tivemos até aqui!
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri repudia veementemente o caráter de perseguição e criminalização dos seringueiros e moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes, efetuada pelo IBAMA na operação denominada de "Reserva Legal", quando moradores foram multados e outros ameaçados de serem retirados da Reserva, por estarem cometendo infrações ao meio ambiente.
Nosso repúdio e indignação têm por base os seguintes motivos:
1) nestes dezoito anos de criação da Reserva não existe uma política que garanta uma renda para os seringueiros viverem com dignidade exclusivamente da produção extrativista. Portanto a utilização da atividade da pecuária é um complemento de renda que tem sido utilizado pela grande maioria dos moradores;
2) tampouco existiu um trabalho de esclarecimento e conscientização das regras de uso e manejo da RESEX que abrangesse um número significativo de famílias;
3) O Plano de Manejo e de Utilização da RESEX não é de conhecimento da grande maioria das famílias;
4) os seringueiros não podem ser responsabilizados pela mudança do clima do planeta, este se deve a ação dos grandes pecuaristas, mineradoras e do grande capital;
5) As multas aplicadas inviabilizam seu cumprimento. As famílias de seringueiros têm uma vida de duro trabalho na floresta e o pouco rendimento e benfeitorias conseguidas pelas famílias não podem ser disponibilizadas para o pagamento destas multas porque isto inviabilizaria a reprodução das próprias famílias.
Os Seringueiros e trabalhadores rurais do Acre lutam com todas suas forças pela posse de suas terras que secularmente foram ocupadas por seus antepassados. A luta que custou a vida de tantos e estimados companheiros não pode ser em vão.
Se ontem lutamos contra o latifúndio, inimigo declarado, parece que a política governamental tornou-se auxiliar dos interesses do latifúndio, que sempre tentou ignorar os que vivem da terra com trabalho.
Hoje temos na política ambiental de criminalização dos pequenos produtores um novo impedimento para a garantia de atividades que permita aos seringueiros uma vida digna.
Parar imediatamente a repressão aos seringueiros!
Cancelar todas as multas que inviabilizam nossa vida na floresta!
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, 17 de dezembro de 2008.
◙ A foto foi enviada pela direção do Sindicato.
2 comentários:
os sindicatos e associações só tem gente incompetente, e todos estão lá por interesse próprios. O governo tem que tirar o poder das mãos dessas falsas intenções de preservação...
Discordo do comentário à cima. No caso o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, na pessoa da sua Presidente a Senhora Derci, vem cumprindo sim com o seu papel de proteção aos interesses da sua classe, diga-se de passagem, de forma muito competente, sem servir de pelego a uma política ambiental discriminatória aos pequenos produtores imposta pelos órgãos ambientais. Pergunto:
De que adianta termos um preservacionismo ferrenho se as pessoas que vivem na floresta não têm condições de sustentar dignamente suas famílias, de pagar os estudos dos filhos, de ter uma casa na cidade e de progredir em seu patrimônio? Temos que deixar claro que as pessoas que criam gado na RESEX o fazem para garantir uma melhor condição de vida aos seus familiares, de ter um maior e melhor retorno econômico, uma remuneração melhor, uma renda maior, que o extrativismo comprovadamente não lhes concede. Não são criminosos, não estão roubando nem muito menos matando, simplesmente estão trabalhando e produzindo o bife e a costela que vai ao nosso prato ma maioria dos dias. Quais foram às iniciativas governamentais que propiciaram esta melhora na renda dos povos da floresta?
Temos que preservar sim, mas também temos que ofertar as condições para que as pessoas que habitam na floresta possam viver melhor, com aumento de sua renda, pois com isso, certamente teremos menos pessoas inchando a periferia de nossas cidades, menos jovem se entregando aos vícios do álcool, das drogas e a mazela de prostituição.
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