domingo, 30 de novembro de 2008

O duelo dos carecas



Josias de Souza, colunista da Folha Online

O último movimento de Renan Calheiros (PMDB-AL) dá uma idéia da ojeriza que ele nutre por Tião Viana (PT-AC).

Para tentar deter o avanço do rival petista rumo à cadeira de presidente do Senado, Renan lançou a candidatura de um desafeto: Pedro Simon (PMDB-RS).

Renan e Simon são como água e azeite. Pertencem a um mesmo partido. Mas nunca se misturaram.

Um milita no PMDB do vale-tudo. Outro se diz representante da banda ética da legenda, sobrevivente da era do velho MDB.

Pois Renan, decidido a embaralhar um jogo que lhe é momentaneamente adverso, apresenta-se agora como patrono de Simon.

Na última quarta-feira (26), reunido com José Agripino Maia (RN), Renan levou o nome de Simon à mesa pela primeira vez.

Agripino comprou a idéia de imediato. Depois, levou-a ao conhecimento do PSDB, parceiro de oposição.

Reuniu-se reservadamente com Sérgio Guerra e Arthur Virgílio, respectivamente presidente e líder dos tucanos.

Guerra e Virgílio também enxergaram em Simon uma alternativa alvissareira. E a oposição estimulou Renan a levar o plano adiante.

Informado da manobra, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), outro sobrevivente do MDB, levou o pé atrás.

Amigo de Simon, Jarbas está convencido de que Renan invoca o nome de Simon em vão, para descartá-lo mais adiante.

Jarbas diz aos amigos que, lançado a sério, Simon entraria no jogo para ganhar. Ele próprio, já fechado com Tião Viana, não teria como negar o voto ao amigo.

O problema, diz Jarbas, é que Simon representa uma perspectiva moralizadora que não condiz com os propósitos de quem o está lançando à presidência do Senado.

No pôquer da Câmara Alta, como no jogo de cartas tradicional, quando submetido a uma situação desvantajosa, o bom jogador costuma recorrer ao blefe.

É o que Renan estaria tentando fazer. Ilude os aliados do desafeto Tião Viana apostando alto, como se tivesse uma boa carta.

Até uma semana atrás, Renan freqüentava o pano verde do Senado brandindo um curinga: José Sarney (PMDB-AP).

Subitamente, Sarney escorregou-lhe das mãos. Bandeou-se para o lado da mesa em que Tião está acomodado.

Por isso Renan decidiu partir para o blefe. A pergunta que todos se fazem agora é: afinal, Simon virou uma carta de Renan?

Em público, Simon não disse palavra. Em privado, observa a manobra de Renan de esguelha.

Como Jarbas, não parece confiar da sinceridade de propósitos de seu neoaliado.

Algo que, imagina Renan, vai mudar quando Simon for convencido de que pode prevalecer na disputa.

O Senado vai viver uma semana de definições. Romero Jucá (PMDB-RR), que jogava com Renan, recebeu delegação de Sarney para conduzir a composição com Tião.

Líder de Lula no Senado, Jucá comprometeu-se com a turma de Tião a furar o balão de ensaio do projeto Simon.

Vai encontrar pela frente um Renan que resolveu se agarrar a uma máxima cunhada por Ulysses Guimarães, condestável do velho MDB:

“Em política, você não pode estar tão próximo que amanhã não possa estar distante, nem tão distante que amanhã não possa se aproximar”.

A dúvida é saber até que ponto Simon deseja se aproximar de um personagem do qual sempre preferiu guardar larga distância.

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