Eduardo de Souza
Ainda no lamento da morte do grande Chico Silva, quero externar também, aqui, meu pesar, pela perda do cabra de honra, (como diria meu avô lá do sertão do RN), que tive o privilégio de conhecer.
Subi e desci várias vezes o Rio Xapuri com o Chico pilotando o motor de rabeta, rio esse que ele conhecia todas as curvas, entradas e saídas, e que, às vezes, era difícil de navegar quando seco, nas corredeiras que eram duras como cruz de maçaranduba, de passar, segundo ele gostava de dizer. Aliás, "Cruz de maçaranduba" e "Se não ajuda, não atrapalha", eram expressões que ouvia muito da boca do Chico.
Homem simples, correto e ético, leal a seus princípios e aos amigos. Nunca o vi correndo da raia numa dificuldade subindo ou descendo o rio. Como um grande capitão de seu barco, era sempre o primeiro a entrar e o último a sair, depois que todos sob sua responsabilidade estivessem em segurança, na margem do rio ou qualquer outro local a que se dirigissem.
Combinar uma viagem com o Chico, era certeza de empreendimento seguro. Antes do dia amanhecer ele já podia ser visto com o barco carregado, equipado e abastecido, pronto para zarpar. Não tinha erro, o Chico era pontualmente britânico, disciplinado, tinha esse comportamento em todas as atividades.
Uma vez um casal de noruegueses, namorados, me procurou, quando eu morava em Xapuri, querendo fazer um pequena incursão pelo rio Xapuri. Eles não falavam nada de português, queriam que eu os acompanhasse, mas eu estava com muito trabalho nesse dia. Não tive dúvidas, procurei meu amigo Chico Silva, expliquei para ele a situação, ele topou de cara o desafio, e levou o casal pelo rio sem nenhum problema, apesar de não entender o que eles falavam, a linguagem universal da confiança e boa vontade fez o seu papel, tornando o Chico uma figura inesquecível para aqueles jovens estrangeiros. Eles gostaram demais do jeitão do Chico, suas brincadeiras e risadas, que nem precisaram de tradução, devem ter divertido muito os jovens, pois eles falaram maravilhas do boatman (barqueiro).
Tenho contato até hoje com aqueles enamorados, que hoje são casados e tem 3 filhos lá na Noruega. A simplicidade franca e cordial do Chico fazia essas coisas. Nas viagens que fiz a Xapuri, depois que me mudei de lá, sempre ia ver o Chico, era um papo agradável, e divertido, sempre, reencontrá-lo. Sempre vou ter um grande respeito pelo homem e pelo profissional que o Chico Silva foi, esse respeito e consideração se estende a família, que vai continuar, agora sem o pai, esposo, avô, mas na certeza que o legado que ele deixou, de responsabilidade, honestidade e honra, vão ser seguidos, e sua memória não vai ser esquecida.
◙ Eduardo de Souza é cirurgião dentista potiguar radicado em Rio Branco há alguns anos. Antes disso, passou 12 anos em Xapuri, onde foi professor de língua inglesa, gerou sua única filha, Izadora, e bebeu água do Rio Xapuri. Não deve mais ir embora do Acre.
Um comentário:
Fazendo apenas uma pequena correção com relação da data em que o TIO CHICO SILVA fez sua "VIAGEM", foi no dia 19 de Março e não no dia 26. E aproveitando pra agradecer pelo carinho e respeito dessa linda homenagem a quem tanto a mereceu...
Milena Barros.
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