Texto: Cláudio Leal
O coronel reformado do Exército e ex-ministro da Justiça Jarbas Passarinho, 88 anos, remexe a ironia ao reclamar das dores na perna:
- Meus problemas estão todos na esquerda…
Na lista médica, além da perna, inclui ainda o joelho e o ombro esquerdos. Quando vai à fisioterapia no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, comete a delicadeza de informar:
- Doutor, não pergunte onde é. Procure na esquerda que acha!
Dados para uma teoria da predestinação ideológica. No futebol, em sua tenra juventude paraense, Passarinho era lateral… direito.
- No tempo em que eram cinco atacantes - acrescenta.
Recuemos para seu primeiro jogo na escola militar, em 1941. Um trombaço tira do eixo o futuro ministro de três governos militares. Dura dividida.
- Me arrebentaram numa disputa com a bola. Arrebentei o joelho, os ligamentos e o famoso menisco. Atrofiei um pouco a perna esquerda, mas depois recuperei. Não ficou igual. Agora que está tudo fora da garantia, tem que aguentar.
Outra dor, não exatamente física, o mobiliza nos últimos meses. Guarda em seu arquivo, “prontinho”, um livro sobre a Amazônia. Mas não consegue publicá-lo. A editora UniverCidade, do Rio de Janeiro, acertou a edição no ano passado.
- Com a crise financeira, houve um recuo. Não tenho meios financeiros para bancar - diz o ex-ministro.
Nascido em Xapuri (AC) e criado no Pará, onde foi governador durante a ditadura (1964-1966), Passarinho ocupou o Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia e realizou inúmeras viagens à fronteira.
Tornou-se um dos ideólogos da ocupação amazônica. Levou essa carga de experiência às páginas datilografadas em sua máquina Olivetti (mais tarde, transferidas para o computador). Por sugestão da primeira editora, definiu como título: “Planetarização da Amazônia?”.
- Tive o cuidado total de não ser faccioso. Coloquei fatos para serem julgados com dados concretos. Não sei se vou conseguir ainda em minha vida publicar esse livro.
Em entrevista ao Blog da Amazônia, Jarbas Passarinho oferece “um resumo apaixonado”. No cerne da obra, a tese de que a maior ameaça à soberania nacional, na Amazônia, é o “vazio militar”.
Ontem, por dez votos a um, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram pela legalidade da demarcação de forma contínua da reserva indígena Raposa/Serra do Sol e determinaram a retirada de não-índios.
- Eles [os militares] acham que, a partir do momento que há linha contínua [na demarcação de terras indígenas], e ela passa da fronteira, a soberania do Brasil está atingida. Não está, não. Eu digo que a defesa está atingida pelo vazio militar.
Essa ideia reduziu “seu Ibope” no meio verde-oliva, brinca. Mas sustenta a argumentação com um exemplo:
- Nós temos outras demarcações, de índios também, mas garantidas, porque são áreas do Sul do Brasil onde a presença militar é forte.
As imagens que ilustram essa reportagem são de um ensaio do fotógrafo Paulo Santos. Confira os principais trechos da conversa no Blog da Amazônia.
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