terça-feira, 24 de março de 2009

Latifúndio (im)produtivo



A enciclopédia livre na internet diz que o termo 'latifúndio' deriva do latim latifundiu. Na antiguidade, era o grande domínio privado da aristocracia. Já no sentido moderno, é um regime de propriedade agrária caracterizado pela concentração desequilibrada de terras pertencentes a poucos proprietários com ou sem aproveitamento físico destas.

Faz algum tempo venho emprestando à Câmara de Xapuri a expressão latifúndio improdutivo porque, além de extremamente corporativista, assistencialista e clientelista, a instituição há muito tempo não produz nada que seja frutificante para a sociedade que representa sob o predicado de "Casa do Povo".

Em certos momentos, as decisões tomadas na surdina e, por que não dizer, as negociatas e os conchavos, urdidos no interior das desde sempre obscuras salas da câmara, deixaram transparecer mais fortemente uma impressão de domínio privado de uma aristocracia avessa aos anseios do povo do que de uma instituição representativa dos interesses coletivos.

Foi assim nas últimas legislaturas e os próprios vereadores remanescentes da renovação promovida pelos eleitores nas últimas eleições não podem negar que o legislativo-mirim padece do descrédito da população e necessita de uma reviravolta tanto na atuação individual como no resultado conjunto do trabalho para poder voltar a gozar da confiança dos munícipes.

Na manhã desta terça-feira, ventos de alguma mudança, ou pelo menos uma tentativa de demostrar transparência quanto às decisões ali tomadas. O vice-presidente da Câmara, vereador José Selmo Dantas (PT), foi à Rádio Educadora explicar os motivos que levaram a mesa diretora a cancelar a sessão ordinária desta semana.

Uma reunião do prefeito Bira Vasconcelos com produtores de uma comunidade rural foi a razão para não acontecer a reunião semanal dos vereadores. Foram convidados para participar do encontro organizado pela Secretaria de Agricultura e consideraram mais produtivo se reunir e ouvir a comunidade in loco que realizar as sempre desérticas e cansativas sessões ordinárias.

Não sei se o interesse maior do encontro, da parte dos vereadores que lá estiveram, era meramente político-eleitoreiro ou se realmente havia a intenção de atender às demandas da comunidade, mas o mais importante é que, diferentemente do episódio ocorrido no ano passado, quando inacreditavelmente nenhum vereador compareceu à câmara em um dia de sessão, desta vez as explicações foram oferecidas.

Quanto à alcunha de latifúndio improdutivo, me comprometo em abrir mão do apelido caso a câmara também assuma o compromisso com as mudanças necessárias e transmute-se em um espaço de debate produtivo e democrático. Em conversa por telefone, na tarde de hoje, o presidente Ronaldo Ferraz se colocou à disposição da imprensa local e me garantiu que a câmara manterá postura de transparência com relação a seus atos. Já não era sem tempo.

Nenhum comentário: