Republico post sobre um excepcional artigo, de autoria da professora Maria Alzenir Alves Rabelo Mendes, que trata sobre a trajetória do jornalismo impresso em Xapuri durante o século XX e sua relação com a formação social, cultural e histórica da cidade. Com invejável formação acadêmica em Letras, Didática e Pesquisa, a professora Maria Alzenir defendeu mestrado cujo tema foi Marcas da memória cultural nas crônicas jornalísticas de Xapuri - 1900 a 1920.
No artigo Os jornais em Xapuri (Acre) no século XX, a autora traça o percurso da formação da sociedade xapuriense através dos jornais que circularam na cidade durante o século passado. Formada não somente por brasileiros nordestinos, como também por sírios, libaneses, turcos, portugueses e italianos, que deram imensa contribuição cultural para o desenvolvimento da cidade, a sociedade xapuriense viveu um período de efervescência das atitudes artísticas e literárias nas primeiras décadas do século.
Eis um trecho:
"Embora Xapuri estivesse isolada, geograficamente, na selva amazônica, lá aportavam companhias de teatro nacionais e internacionais para se apresentarem no Teatro Variedade, onde eram representadas peças teatrais e concertos. Estes se davam sob a regência de maestros e pianistas, que pelo nome deviam ser estrangeiros, como por exemplo, o Professor Reffoli, as pianistas Emma Biari, Mile, Gerechter, que tocavam “Verdi a quatro mãos” (Jornal Acreano, 03 de maio de 1909). E pessoas que propiciavam shows musicais como a cantora Rosita de La Plata, para uma platéia que vestia “tailleur de cachimir e teissor” (Jornal Acreano, 04 de janeiro de 1908. p. 1; Jornal Correio do Acre, 1910; Jornal O Acre, 27 de março de 1913)".
Entre os muitos jornais que circularam em Xapuri, estão: o El Acre (1901), O Acre (1907), o jornal Acreano (1907-1910), O Correio do Acre (1910 a 1913), o Alto Acre (1914), semanário Commercio do Acre (1915) e muitos outros.
Seguem mais alguns trechos do artigo:
“A fundação de jornais em Xapuri iniciou-se ainda na época em que a cidade não dispunha de nenhum outro meio de comunicação além de cartas, bilhetes ou recados que eram confiados aos comandantes dos navios cargueiros, aos regatões, comboieiros ou aos membros da antiga Guarda Nacional.”
“A circulação do primeiro jornal em Xapuri, o El Acre, instalado na aduaneira de Porto Acre, em 1901 pelo governo boliviano, deu-se quando a cidade, sob o domínio boliviano, ainda se chamava Mariscal Sucre, antes da Revolução Acreana”.
“Em Xapuri, o afloramento da imprensa deu-se juntamente, e pode-se dizer em função dos gloriosos tempos propiciados pelo grande volume da produção extrativista. Os jornais da época dão conta de noticiar a saída de até 20 navios cargueiros, lotados, do porto de Xapuri em um só mês. (O Acreano, 04 de setembro de 1908. p. 1)".
“De 1915 a 1918, houve melhorias na zona urbana: a cidade recebeu mais uma escola, um matadouro, a fonte de água, além de possuir o maior centro comercial da região, chegando ao total de quarenta e quatro casas comerciais. Sendo a maior delas a da firma Belchior Gallo, A Limitada, uma das mais importantes casas aviadoras da região, com frota própria, navios para a época de chuvas e lanchas para o período de estiagem, quando os rios não permitiam a passagem dos navios de grande porte”.
“Os reflexos negativos da centralização do governo do Território atingiram a cidade de Xapuri. Pois, conforme se pode observar na entrevista da Irmã Serva de Maria Reparadora, Alfreda Patrini, concedida à pesquisadora do CNPq, Suzy Andréia, o quadro geral da cidade, em 1928, era de miséria. Segundo a freira, este foi o principal motivo pelo qual ela veio designada para servir no Colégio recém - fundado, Divina Providência. Irmã Alfreda disse que queria servir em um lugar onde houvesse maior necessidade e a mandaram para Xapuri, onde já se encontravam outros religiosos como o Pe. Felipe Galerani, Diretor do colégio, irmã Mercedes, Ester Bressan e a Madre Priscilliana Bellon. Esse grupo de Católicos europeus eram os promotores de eventos culturais, a partir de então, como representações de peças teatrais, manutenção de jornais de curta duração e agremiações estudantis. Além de propiciarem no colégio Divina Providência, aulas de piano, canto e balé, ministrados pela professora e maestrina, Elaís Meira Eluan. Ainda segundo o depoimento da irmã Alfreda, pelos idos de 1947 a 1949, quando a indústria gomífera da Amazônia tomava novo impulso em função da Segunda Guerra Mundial, havia muita pobreza em Xapuri, impondo às freiras, sob a direção de D. Júlio Mattiloli, então bispo da Prelazia Acre e Purus, fazer campanha de arrecadação de donativos junto aos seus familiares que ficaram na Europa. Assim, vinham roupas, remédios e alimentos, que eram distribuídos pela igreja à comunidade local”.
O artigo completo pode ser lido no blog Estudando a História, dos professores Eduardo Carneiro e Egina Carli.
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