quarta-feira, 6 de abril de 2011

A lógica irracional da Saúde

A qualidade do atendimento de saúde no interior do Acre sucumbe frente a uma lógica irracional e perversa. Insiste-se em dizer que a saúde já foi pior, que muita coisa melhorou, isso sem falar na utópica história da saúde de primeiro mundo, enquanto a realidade cotidiana coloca a população diante de situações de extrema precariedade.

O trágico acidente ocorrido no último domingo, vitimando mais uma pessoa em Xapuri, dá uma mostra do que afirmo acima. Cerca de 10 minutos antes que a tragédia acontecesse, a única unidade do Samu disponível na cidade havia se deslocado para atender uma ocorrência no município de Brasiléia, que estava com a sua também única ambulância parada por problemas mecânicos.

Segundo informações de testemunhas e da gerência do hospital de Xapuri, o médico que atendeu a ocorrência chegou ao local entre 15 e 30 minutos depois do acidente, levado por uma viatura da Polícia Militar. Informações não oficiais dão conta de que a vítima teve morte instantânea e que, sendo assim, nada poderia ser feito caso o atendimento fosse mais ágil. Mas, muito pouco ou nada seria feito também caso a moça ainda estivesse viva e suas chances dependessem do suporte da ambulância.

Como já disse em post anterior, não adianta procurar culpados individuais para situações como essas. A culpa deve ser atribuída a uma conjunção de fatores escandalosamente negativos, cuja responsabilidade maior está lá em cima, no topo de um sistema falido onde se permite forjar viagens áreas enquanto pessoas morrem sem ter acesso a uma passagem para centro médico mais avançado.

É inaceitável que a maioria das cidades acreanas disponha de apenas uma unidade do Samu, quando não, em determinados momentos, que duas cidades dependam apenas de uma, e ainda assim, ao meu ver, fora das condições ideais de manutenção. Presenciei, dias atrás, quando um amigo era transferido para Rio Branco depois de um acidente de trânsito que lhe rendeu três fraturas em um braço, o motorista pedir a Deus que o veículo não quebrasse na estrada.

Conversei hoje pela manhã com a diretora do hospital Epaminondas Jácome, Maria Edvirgens Farias, que visivelmente emocionada relatou a pressão sofrida por funcionários da unidade de saúde em decorrência da impossibilidade de ter-se dado à vítima do acidente um atendimento mais rápido, independentemente da mesma estar ainda viva ou não. A revolta de parentes e amigos com a falta de estrutura atingiu os profissionais, a quem, nesse caso, não cabe culpa nenhuma.

Não sei o quanto custa uma ambulância do Samu, mas tenho certeza que seu valor é infinitamente menor que o de uma vida. A presença de uma maior quantidade de veículos desse tipo em todas as cidades, inclusive com algumas de reserva, deveria ser prioridade das políticas de governo para o setor, que não teria com isso seus problemas resolvidos, mas, com certeza, muitas vidas poderiam deixar de cessar por falta de atendimento de urgência.

Outra deficiência que não pode ser esquecida, no caso específico de Xapuri, é a falta de um ou mais veículos próprios para o Setor de Endemias, que trava uma luta inglória contra uma doença que a cada ano vem se tornando mais ameaçadora e letal, a dengue, além de outras que provocam intenso sofrimento humano como é o caso da leishmaniose, quem tem aqui um de seus lugares mais endêmicos na Amazônia.

Acredito que o desejo de todo acreano, assim como o deste blogueiro, é de que a atual lógica se inverta de forma que não tenhamos (e nunca teremos) a tal saúde de primeiro mundo, mas que as necessidades mais básicas, como ambulâncias bem equipadas para emergências e em número adequado para as necessidades de cada município, boas condições de trabalho para o combate às endemias e postos de saúde com médicos e medicamentos não sejam deficiências tão desgraçadamente grotescas como são na atualidade.

2 comentários:

Vivianne Pereira disse...

Raimaire, gostaria apenas de ressaltar uma observação que fiz no 5º parágrafo do seu texto. Na verdade, são três cidades e não duas (Xapuri, Brasiléia e Epitaciolândia), o que faz com que a situação seja mais grave ainda, ou seja, uma ambulância não para 2 mas para 3 municípios.

Sued disse...

CARO RAIMARI,EU QUERO PARABENIZAR PELA MATÉRIA,EU LENDO ESSA MATÉRIA AÍ DA MINHA QUERIDA CIDADE ONDE NASCÍ E VIVÍ ATÉ OS 25 ANOS, ANTES DE ME MUDAR PRA PORTO VELHO,FICO VENDO O MOTIVO DA REVOLTA DO POVO ACREANO COM ESSE GONVERNO ATUAL,ISSO REPERCUTIU NAS URNAS,UM SENADOR COMO TIÃO VIANA, EMPATOU COM TIÃO BOCALON,,EU VEJO MUITA PROPAGANDA DO PT E TUDO NÃO PASSA DE FALACÍAS,AQUI EM PORTO VELHO O PREFEITO É DO PT HÁ OITO ANOS,DOIS MANDATOS,A PREFEITURA DE PORTO VELHO É A CAPITAL DO BRASIL QUE TEM RECEBÍDO UMA ARRECARDAÇÃO BÍLIONARIA COM A VINDA DAS HIDRELETRICAS DO MADEIRA,E A CIDADE DE PORTO VELHO HOJE É UMA DAS CIDADES MAIS SUJAS E IMUNDA DO BRASIL,NÃO É SÓ AÍ NO ACRE QUE O PT CONVENCE COM MENTIRAS NÃO, AQUI TAMBEM. UM ABRAÇO AMIGÃO.