O sanfoneiro Juvenal Aquino (63) é de fato uma instituição xapuriense. Exemplo da riqueza cultural que a cidade possui e das figuras marcantes da história da cidade que nem sempre recebem o merecido reconhecimento.
Conheço Juvenal desde os tempos em que meu falecido pai adotivo, Antônio Firmino, era comboeiro nas matas dos seringais Novo Catete, Albrácia, Sibéria e outros. Quando vinha à cidade, era inevitável aquela passada pelo “Remanso” para ouvir o sanfoneiro tocar sucessos de artistas renomados.
Remanso era o nome dado a um pequeno beco localizado na área central da cidade, onde hoje estão erguidas as drogarias Paraná e Drogamira. Ali, se acotovelavam pequenos comércios e microbotequins, onde pululava a boemia desabastada da cidade.
Num desses frequentados botequins, em um tempo em que o centro de Xapuri possuia uma doce agitação, tão diferente da atual, Juvenal Aquino fazia sua sanfona atrair a atenção de “doutores” e matutos. Membros da segunda categoria, eu, ainda criança, e meu pai parávamos sempre para ouvir, meio abestalhados, a melodia saída dos 48 baixos daquele instrumento que encantava.
Juvenal Aquino nasceu no seringal Apodi, nas margens do rio Xapuri, sendo o único xapuriense de nascimento em uma família de 12 irmãos. Seus pais, um cearense de Sobral, Teodoro Rodrigues da Silva, e uma paraense de Castanhal, Rita Tomás de Aquino, vieram para o Acre nos anos de 1940. Na viagem de barco entre Castanhal e as matas de Xapuri, morreram três dos 11 filhos que traziam.
A paixão pela sanfona nasceu por volta dos 20 anos de idade, quando resolveu pedir a Teodoro que comprasse para ele um instrumento de fole. Dos irmãos homens, Juvenal conta que todos tocavam alguma coisa, mas que o pai, mesmo tendo possuído um acordeão, jamais conseguira extrair um único acorde, motivo pelo qual resolveu vendê-lo. Daí a resistência do velho em adquirir a tão sonhada sanfoninha de 8 baixos dos sonhos de Juvenal, que findou por ser comprada algum tempo depois.
Em 1968, Juvenal deixou o seringal e veio para Xapuri, onde se inspirou num tocador chamado Mundico Agostinho, a quem considera seu grande mestre, e comprou uma nova sanfona, essa de 24 baixos. No ano seguinte, vendo que o filho levava jeito para a coisa, o velho Teodoro resolveu presenteá-lo com um instrumento maior: uma sanfona de 48 baixos com a qual o sanfoneiro começou a animar festas por vários lugares do município.
Juvenal conta que nessa época ouviu muitas piadinhas e críticas vindas de quem não acreditava em seu talento para tocar sanfona. Certa vez, quando foi contratado para animar uma festa de casamento em um seringal, o pai do noivo foi questionado sobre a escolha do sanfoneiro.
- Chico Afonso, em Xapuri não tem mais tocador, não? Perguntou um parente da noiva ao anfitrião.
- Por que a pergunta? - devolveu o seringueiro, que desejava festejar o casório do filho ao som de uma boa sanfona, instrumento impreterível nos regabofes daquele tempo.
- Se tu fostes a Xapuri contratar um tocador e trouxe o Juvenal Aquino, é porque lá não tem mais sanfoneiro, treplicou o chato de plantão.
- Vou fazer o casamento de meu filho, quem vai tocar é juvenal Aquino e vem na festa quem quiser, pôs fim à conversa o enjoado Chico Afonso.
Alguns anos depois, o mesmo crítico se dirigiu a Juvenal para parabenizá-lo por sua sanfona atrair tanta gente às festas nas quais tocava.
- Nunca esmoreci com isso, não. Tocador não pode ter rancor, filosofa o sanfoneiro.
Há mais de 27 anos, mantém a casa de festas que se tornou famosa em Xapuri e conhecida em todo o estado, o Forró do Juvenal, que recentemente foi restaurada com apoio da prefeitura. Do fato de possuir público fiel e estar sempre lotada nos dias de sábado, a casa de forró ganhou um apelido – Espoca Chato - que, por considerá-lo pejorativo e indecoroso, Juvenal nunca o aceitou com bom humor.
- Muita gente de bem deixa de vir à festa por causa desse apelido indecente, reclama.
As festas são a única renda e meio de vida do tocador, que atualmente atravessa dificuldades financeiras e de saúde. Conversei com ele na véspera de viajar para Rio Branco, onde se submeterá a uma cirurgia de próstata marcada para ocorrer nesta quarta-feira, dia 24.
Fã do Trio Nordestino, Luiz Gonzaga e Noca do Acordeon, Juvenal Aquino deixou há dois anos a sanfona de lado para animar os tradicionais forrós ao som de um teclado. As razões são, segundo ele, as mesmas citadas no parágrafo acima. A falta de condição financeira para manter um conjunto que acompanhe a sanfona e as dores que o impedem de envergar o instrumento que afirma ser a grande paixão de sua vida.
Este texto é uma forma de homenagear essa pessoa querida que tão bem representa a história da arte e da cultura de nossa cidade. Xapuri possui muitos Juvenais, exemplos de vida e de coragem que, apesar das muitas adversidades lhes impostas, optaram por produzir e deixar como herança algo de bom para as novas gerações. A ele, um grande abraço e toda a proteção de Deus nessa jornada da qual em breve estará retornando para novamente nos alegrar com os belos acordes de sua sanfona.
Em tempo: Juvenal Aquino é irmão do poeta de cordel Francisco de Aquino e Silva, o “seu Tico”, que possui dois livros publicados por meio da lei de Incentivo à Cultura.
6 comentários:
Quero nesse instante em que abri o blog do meu amigo Raimari, dar meu elogios a essa grande matéria em que vc conversa com uma grande personalidade de nossa xapuri, meu grande amigo e parceiro de profição Juvenal Aquino, o qual tenho o maior respeito pela sua dedicação pela tão maravilhosa arte de fazer música. Que bom que ainda temos Juvenal com seu estilo brilhante, simples e corajoso que é a profição de ser músico a qual eu tambem a faço parte dela, infelismente todo mundo gosta de música mais ninguem gosta de pagar para ouvir a mesma. Mais quero aqui de coração espressar ao nosso grande músico xapurience, a sua saúde e que Deus na sua bondade de nosso Pai Celestial, cuide de sua saúde e de sua cirurgia que com certeza vai dar tudo certo, queromos o Juvenal por muito tempo com vida e saúde, falo isso em nome de todos os colegas músicos de xapuri. Um forte abraço ao nosso amigo JUVENA como sempre trato ele.
Grande Juvenal, ícone da música xapuriense. Tenho satisfação em dizer que o Juvenal é um daqueles que considero grande amigo. Deus irá ajudar ao mesmo para que recupere a saúde e faça ainda muitas festas no seu clube.
Amigo Raimari, publica o resultado do Concurso do IFAC de Xapuri, a Eliana Pereira foi aprovada, ela é uma das suas leitoras mais assíduas, faz uma homenagem aí. Abraços....
Caro Raimari,
eu tive o previlégio de ter tocado pela primeira vez no conjunto desse cidadão, que além de ser um grande músico é também um grande homem . Apesar de não me considerar um músico e ném fazer parte do rol dos grandes músicos Xapurienses, ele me deu essa oportunidade que através disso, tive outras oportunidades também chegando a ser o primeiro tecladista a manusear um teclado eletrorítimo em Xapuri. Por esse motivo eu venho aqui agradecer e pedir a Jesus que coloque suas mãos sobre ele, e cure de vez essa enfermidade que tanto lhe atormenta. Um grande abraço meu grande amigo Juvenal , que Deus lhe proteja sempre.
Caro Raimari,
eu tive o previlégio de ter tocado pela primeira vez no conjunto desse cidadão, que além de ser um grande músico é também um grande homem . Apesar de não me considerar um músico e ném fazer parte do rol dos grandes músicos Xapurienses, ele me deu essa oportunidade que através disso, tive outras oportunidades também chegando a ser o primeiro tecladista a manusear um teclado eletrorítimo em Xapuri. Por esse motivo eu venho aqui agradecer e pedir a Jesus que coloque suas mãos sobre ele, e cure de vez essa enfermidade que tanto lhe atormenta. Um grande abraço meu grande amigo Juvenal , que Deus lhe proteja sempre.
Caro Raimari,
eu tive o previlégio de ter tocado pela primeira vez no conjunto desse cidadão, que além de ser um grande músico é também um grande homem . Apesar de não me considerar um músico e ném fazer parte do rol dos grandes músicos Xapurienses, ele me deu essa oportunidade que através disso, tive outras oportunidades também chegando a ser o primeiro tecladista a manusear um teclado eletrorítimo em Xapuri. Por esse motivo eu venho aqui agradecer e pedir a Jesus que coloque suas mãos sobre ele, e cure de vez essa enfermidade que tanto lhe atormenta. Um grande abraço meu grande amigo Juvenal , que Deus lhe proteja sempre.
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