Taís Toti, Jornal do Brasil.
No Acre, é comum dizer que algo é “mais ralo que caldo de piaba”, mas há controvérsias sobre a verdadeira consistência da refeição: muitos dizem que, na verdade, o prato é coisa fina. De qualquer forma, de fraco a banda acreana Caldo de Piaba não tem nada – da receita, talvez, tenha em comum apenas a mistura, no caso deles de referências musicais, que poderão ser vistas e ouvidas nesta sexta-feira, na Caixa Cultural, na abertura da Mostra Instrumental Contemporânea (MIC), que vai até domingo.
– Começamos a banda com a ideia de fazer um projeto instrumental. Íamos para o estúdio, improvisávamos bastante e percebemos que passávamos por ritmos diferentes, tanto nas nossas composições como nas versões – explica Eduardo di Deus, baterista da banda.
As influências – que Di Deus prefere ver como “referências” – são tantas que é difícil listar: no baixo e na bateria, presença forte do brega e da lambada, além do ska e do rock, este também presente nas guitarras, que conduzem as músicas e representa fortemente a influência da guitarrada, estilo musical paraense. Apesar da grande inspiração nos ritmos amazônicos, o regionalismo não define a banda.
– Esse rótulo gera compromisso com determinados padrões, e nós apenas incorporamos alguns elementos. Lidamos com o regionalismo mas não somos regionalistas – destaca o baterista. – Os ritmos vão se transformando, é sotaque de lambada no rock, com uma força de funk. São ritmos populares, que foram fortes na Amazônia nas décadas de 70 e 80, coisas que escutamos desde pequenos ou mesmo na rua.
Turnê de Kombi
A cada festival que participa, o Caldo de Piaba recebe mais e mais convites para tocar pelo Brasil. Eles já passaram pelo Varadouro (Rio Branco, AC), Calango (Cuiabá, MT), Recbeat (Recife, PE) , além de shows em outras cidades brasileiras. Investindo também na terra natal, eles criaram o Piaba no Kombão.
– No primeiro show que fizemos, conseguimos uma Kombi emprestada, na qual cabe o equipamento inteiro e a gente dentro. Daí surgiu a ideia, que fomos amadurecendo. Fomos circulando, levando o show para espaços públicos nas cidades do interior do Acre, como em Brasiléia, que fica na fronteira com a Bolívia, e Xapuri – recorda Di Deus. – Sempre levando música instrumental para quem não está acostumado a ouvi-la. Em alguns lugares houve muita interação com as crianças, em outros, por conta releituras que fazemos de músicas antigas, pessoas mais velhas vinham conversar com a gente.
Sem letra
Junto com a Caldo de Piaba, a Mostra Instrumental Contemporânea traz nomes de diversas cidades brasileiras, fazendo um apanhado da música instrumental no Brasil. Na sexta-feira, os cariocas da Binário acompanham os acreanos; no sábado, se apresentam A banda de Joseph Tourton (PE) e Guizado (SP); e as bandas Fossil (CE) e Elma (SP) finalizam a mostra, no domingo. Todas as bandas se apresentam gratuitamente.
– Hoje tem muita banda instrumental que gostamos bastante. No nosso caso a resposta sempre foi boa, fizemos pouquíssimos shows em que o público não estava no clima. Quando se faz uma coisa bem feita as pessoas aparecem – opina Gabriel Izidoro, guitarrista d'A Banda de Joseph Tourton, que ganhou este nome por causa da rua em que ensaiavam e que acabou virando um personagem, um aviador sem rosto criado pelo grupo.
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