Leônidas Badaró
Hoje a bola não vai rolar. O futebol que tem na alegria seu principal ingrediente para ser o esporte mais praticado no mundo ficou triste. E a culpa não foi de nenhuma briga em estádio, gol perdido, goleada em final de campeonato. É que nesta segunda-feira, 29, o futebol brasileiro perdeu um de seus mais competentes e apaixonados torcedores.
Armando Nogueira era um “cara” que escrevia da política ao futebol com a mesma elegância. Parecia um Didi, aquele da folha seca, da escrita. Parecia não pertencer ao mundo real. Diferente de nós, pobres cronistas esportivos, não olhava apenas o futebol, conseguia enxergar o que para ele era o óbvio e que para nós às vezes é indecifrável. Via a emoção, a humanidade em um esporte tão amado.
Na televisão, não esqueçamos que foi ele que revolucionou o telejornalismo brasileiro. Recordo de um programa de entrevista no canal pago Sportv, feito por ele. Armando Nogueira não era representante no mundo de Apolo - Deus grego da beleza - também estava longe de ter uma voz de locutor de FM. Longe disso!
Era exatamente pela sua timidez, não sei se proposital, pois os sábios lançam mão de artifícios para prender a atenção da gente, que ele conseguia extrair de jogadores, técnicos e personagens do futebol brasileiros, já calejados de entrevistas, coisas que ninguém mais conseguia.
O melhor de Armando Nogueira é que ele deu um chute de primeira nos intelectuais de ar condicionado que fizeram tantas críticas à paixão do torcedor pelo futebol. Esse acreano mostrou ao Brasil que poesia e futebol podem vestir a mesma camisa.
Duas coisas me unem a Armando Nogueira, ter nascido em Xapuri e ser apaixonado pelo esporte bretão. Mas sei que pertenço ao mundo real e jamais terei um terço da maestria do meu conterrâneo com a escrita. Mesmo assim o agradeço; graças aos seus textos hoje consigo enxergar poesia em 22 homens correndo atrás de uma bola.
Leônidas Badaró é xapuriense, jornalista, cronista esportivo, narrador da TV Aldeia e Rádio Difusora Acreana e goleiro frustrado.
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