quinta-feira, 16 de junho de 2011

Importante

Francisco Braga

Eu sempre fui um parasita. Nunca deitei sob um teto que não fosse de alguma pessoa que me tivesse amparado. Tenho meio século de vida, menos algumas horas. Sou egoísta, trapaceiro e mentiroso. Por ser desprovido de honra, vergonha na cara e moral suporto ofensas, agressões, desprezo e escárnio sem problemas. Tenho preguiça, sou incompetente e irresponsável. Fujo do trabalho. Sou folgado.

Rude, grosseiro, cruel esnobo quem me ama. Também nunca amei verdadeiramente pessoa alguma. Frequentemente, sem o menor remorso, desprezo minha família e exalto meus amigos por conveniência. Sou perdulário, hipócrita e dissimulado. Sou invejoso, aproveitador, cínico e covarde. Não tenho escrúpulos nem remorso quando engano, desrespeito e humilho quem não me convém.

Roubo, trapaceio, exploro e abandono qualquer pessoa. Seja mãe, irmãos, filhos, amigos. Sou ingrato, falso, perverso, infiel e insensível. Não tenho respeito por ninguém, sou inconveniente, indiscreto e mal educado. Sou orgulhoso e vingativo. Não sinto pena de ninguém. Sou destemperado, deselegante e violento. Sem controle, indisciplinado, não tenho metas, sou desastrado. Não tenho discernimento.

Sou feio, mal arrumado, fedo. Fumo, bebo, jogo. Sou pervertido. Ando mal acompanhado. Sou arruaceiro, desqualificado, detestável, tosco, doente, ordinário, insignificante. Mas, ainda assim, com todos esses atributos desprezíveis e abomináveis alguém foi maravilhosamente bondoso comigo. Me fez acreditar que sou importante, quando morreu em meu lugar, pregado numa cruz.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Francisco Braga é chargista dos bons e - pelo jeito - poeta e cronista melhor ainda.

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