Pela porta dos fundos

Vanderley Viana saiu da prefeitura de Xapuri como entrou. Pela porta dos fundos. Afirmo isso porque sua eleição, há quatro anos, foi um exercício de autoflagelo de uma população insatisfeita com a última administração petista. Foi fruto do chamado “voto de protesto”.

Ninguém, em momento algum, acreditou que Vanderley fosse capaz de ser um bom prefeito. Ele já havia sido péssimo na primeira ocasião em que administrou Xapuri e seu retorno foi um castigo contra os petistas que perderam o foco entre uma e outra partida de sinuca ou pescaria.

Já na sua posse, em janeiro de 2005, protagonizou episódios dignos de uma pessoa à beira da demência. Recusou-se a prestar o juramento constitucional, ameaçou de morte um vereador aliado que votou contra seus interesses na eleição da mesa diretora da Câmara e invadiu a Rádio Educadora 6 de Agosto.

Na justiça, colecionou processos contra si e contra o município. Legou à cidade e ao povo uma herança maldita como maldita foi sua malfadada passagem pelo poder municipal. Zombou das leis e caçoou da boa gente que aqui vive e continua acreditando que ainda pode haver pessoas que se pautem no princípio da decência.

As condições vergonhosas em que o novo prefeito encontrou a prefeitura não surpreendem. Não se poderia esperar coisa diferente depois de tudo o que se acostumou a ver durante quatro anos de mandato desastroso. E o que se viu nesta sexta-feira pode ser apenas a ponta de um grande iceberg de irregularidades.

Talvez por isso tenha deixado a prefeitura pela porta da cozinha, de fininho, à francesa, deixando para trás, atônita e atabalhoada, uma multidão de credores e viúvas desvalidas. Os frutos de sua administração, no entanto, não devem ser considerados totalmente inúteis. Merecem ser tema de um tratado de escatologia

Mas Vanderley Viana não é para ser lembrado. Deve ser esquecido mesmo que a penca de infortúnios que nos deixa sirva de lição e aprendizado. Apesar de toda a desgraça não foi capaz de tirar do povo a esperança. Isso foi provado ontem, durante a solenidade de posse, quando a população se fez presente para celebrar um novo momento.

Quem andou pelas ruas de Xapuri nesta sexta-feira sentiu um clima diferente. Os postos de saúde estão fechados sem médicos e sem medicamentos, o lixo e os urubus dominam a paisagem, mas se via um ar de ânimo no semblante das pessoas. Ninguém pode garantir que Bira será um bom prefeito, mas acredita-se piamente nisso. E ai dele se não o for.

Talvez pela primeira vez na história um governador visitou todos os bairros de Xapuri em um único dia. Viu de perto todo o conjunto de mazelas que assolam o município e fez aquilo que não configura nenhum mérito especial: assumiu o compromisso de ajudar a reconstruir a cidade, não apenas no aspecto estrutural, mas também no resgate da auto-estima da população.

Vanderley Viana saiu pela porta dos fundos, mas Xapuri parece ter entrado pelo portão da frente de um novo tempo. Tempo de esperança e de otimismo para sair da contramão da história e seguir um caminho de trabalho rumo a um patamar mais próximo daquilo que a tradição de luta e de trabalho de nossa gente sugere.