De tão acalorado, o debate sobre o universo xapuriense ganha novos contendores ao mesmo tempo em que ameaça perder outros. O desejo do blog é de que apenas cresça o número de vozes a utilizar este espaço como canal de discussão sobre as questões relacionadas a Xapuri, a “terra que um dia foi princesa e que hoje está mais para gata borralheira”, seguindo a tendência das críticas que têm costumeiramente recaído sobre os ombros da atual e de outras administrações.
Sobre as baixas, primeiro foi o escrivão da Polícia Federal Eden Mota, xapuriense que largou seu blog depois que os vereadores resolveram processá-lo pelas críticas ferrenhas que despejou contra a “casa do povo” e seus representantes. Alegou questões pessoais para guardar a pena, mas penso, aqui com meus botões, que a reação desproporcional dos edis contribuiu para que o ex-blogueiro resolvesse trocar a escrita do seu blog pela leitura de apostilas preparatórias para concursos públicos.
Agora quem ameaça abandonar o debate é o xapuriense Carlos Estevão, que apesar de viver fora de Xapuri há muito tempo, tem sido assíduo tanto nas visitas à sua terra de nascimento quanto nas discussões sobre as mais diversas questões levantadas aqui neste blog sobre o cotidiano da cidade.
Abespinhado com recente manifestação do assessor de Divulgação Social da prefeitura, Haroldo Sarkis, relacionada às críticas que têm sido direcionadas à administração “Todos por Xapuri”, Carlos afirmou que, doravante, se absterá de tecer comentários sobre a administração xapuriense atual, o que será, em minha opinião e com todo o meu respeito, uma decisão boba, com trejeito de birra de menino buchudo, pelas razões que exponho a seguir.
Num artigo brilhante, no qual viajou do poeta Castro Alves ao cineasta Glauber Rocha, Carlos Estevão se contrapôs às afirmações do assessor do prefeito, que havia tachado de “grosseiras”, “vulgares”, “irônicas” e “preconceituosas” as opiniões que os críticos estariam tentando “empurrar goela abaixo” da população contra a atual administração de Xapuri. Sentindo-se incluído na reprimenda do assessor, Carlos soltou o verbo e brindou o blog e seus leitores, sem dúvida nenhuma, com uma opinião franca, equilibrada e esclarecedora sobre a sua maneira de pensar e avaliar a atual realidade de Xapuri.
Vejam que o pronunciamento escrito do assessor Haroldo, independentemente de ser justo ou não, resultou na elevação à estratosfera do nível do debate até então proposto por aqueles que opinam pública ou anonimamente neste espaço. Sarkis rebateu as críticas feitas ao governo para o qual trabalha, e fez isso expondo números, enumerando ações e realizações da administração municipal. A despeito de ter empregado adjetivos deselegantes às opiniões desse ou daquele xapuriense, fez aquilo que há muito tempo não se via por parte de um assessor do prefeito Bira Vasconcelos: responder às críticas, prestar informações, apresentar dados, enfim, mostrar a cara para o povão que é mais representado por blogueiros inconvenientes e comentaristas ranzinzas e exigentes que mesmo por aqueles que detêm diploma do TRE.
Em contrapartida, o artigo de Carlos Estevão, longe de retribuir os predicados que considerou inadequados e nada polidos, admitiu que a atual administração de Xapuri tem méritos, acertos, arrumou a casa e desenvolve várias ações importantes. Ao mesmo tempo, afirmou que o que ocorre hoje no município é pouco para quem goza do suposto privilégio de contar com governos do mesmo partido nas esferas estadual e federal. E concluiu convidando os administradores de Xapuri ao sempre saudável exercício da autocrítica, oferecendo vários pontos passíveis de serem usados como “matéria-prima” para tal avaliação, ou seja, oferecendo sugestões onde foram colocadas as críticas que tantas vezes aborrecem e melindram.
Em tudo o que li e reli não vi razão nem motivo para que ninguém tire a camisa e abandone o campo de jogo. Isso, com todo o respeito que repito ter ao bom xapuriense, parece coisa de quem não sabe brincar, como dizíamos nos bons tempos, quando, numa das infalíveis peladas que todos nós invariavelmente jogamos, o dono da bola se aborrecia com uma entrada mais dura do adversário, colocava a pelota debaixo do braço e punha fim à brincadeira.
Do fantástico texto com que o xapuriense Sérgio Roberto, filho do saudoso João Mucuim e de Dona Nadir, brindou este blog, tomo emprestadas duas frases que se complementam e dão o exato tom daquilo que talvez mais precisamos apreender quanto à maneira de lidar com diferentes opiniões e expressões do pensamento. “Quando as vozes ecoam (…), entendamos que elas podem destoar de concepções sacras. As vozes são bem superiores às ‘verdades absolutas’ de alguns e tem uma enorme capacidade de ‘desconstruir’ e reinventar”.
Mais do que nunca é disso que Xapuri precisa. De compreender e não apenas ouvir as vozes que ecoam nos quatro cantos da cidade. Do debate, da discussão, dos contrapontos e até mesmo das altercações que geram mais discussão e mais debate que contribuem para estabelecer uma opinião mais elevada e mais abalizada sobre a realidade na qual Xapuri está mergulhada desde sempre. E para isso não podemos prescindir do talento de pessoas como o Carlos Estevão, da chatice do Eden, do maravilhoso “pitaco” que o Sérgio Roberto tascou logo abaixo e de outros tantos que se arriscam a expor pensamentos e a vender ideias assinando o nome embaixo. Os processos na justiça e as réplicas raivosas são apenas parte do processo.
No íntimo, acredito que o bom xapuriense Carlos Estevão Ferreira Castelo não abandona a contenda. Xapuri vale uma boa briga e pelo que conheço do filho do Estevão e de Dona Aurélia, ele dá uma boiada para não sair de uma.
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