José Cláudio Mota Porfiro
O preconceito é um conceito antecipado, a priori. Antes, em criança e adolescente, participei de eventos sociais por aquelas bandas. Como naqueles tempos ainda não me havia tocado o germe da discriminação, eu não posso me aceitar enquanto um preconceituoso, posto que só agora, por último, os bolivianos se tornaram menos humildes e muito mais antipáticos, notadamente, uma grande parcela de pós-incaicos que querem tornar tudo aquilo muito pior que antes.
Não me vem à memória a autoria, mas um certo aforismo nos diz que todos aqueles que se sentem desprezados fazem tudo na vida para serem odiados. É exatamente esta a condição dos nossos vizinhos marginais que tentam se erguer à custa da mais desprezível ilegalidade.
Conscientemente, jamais deveria-mos esperar muita coisa de uma nação sustentada a partir de uma substância que faz tanto mal ao ser humano. Os bolivianos estão entre os que envenenam a humanidade, sem nenhuma preocupação. Todavia, registre-se que há, ali, ainda, um punhado de verdadeiros e poucos caudilhos que dignificam uma pátria de tantos desvalidos e de tão poucos verdadeiramente conscientes. Vivem por lá uns escassos honrados e verdadeiramente trabalhadores. Não sei até quando eles haverão de suportar tanta iniquidade.
Vai apenas um conselho - de irmão para irmão, do tipo de pai para filho - porque eu não aprecio ver ninguém passar por apuros, principalmente, quando não existem culpas ou pecados que justifiquem os desmandos praticados por uma gente sem nenhum escrúpulo, como estes habitantes da nossa última fronteira mais a oeste do Brasil.
Não, meu amigo, nunca mais vá à Bolívia! É um apelo que faço em nome da segurança e da tranquilidade que deveriam ser a tônica de um passeio que, dependendo dos humores dos cholos, pode muito bem se transformar em algo bastante tedioso e, o que é pior, aborrecido e traumatizante.
Sem querer justificar fatos injustificáveis - que ocorrem principalmente nos finais de semana de verão, em Cobija - é conveniente considerar, antes, a grosso modo, a saga dos povos incas dizimados pelos espanhóis entre os séculos XVI a XIX. Os atuais bolivianos, por exemplo, foram escravizados e atirados em chiqueiros, feito porcos, onde faziam, inclusive, as necessidades biológicas e pariam as suas crias que, sem nenhum cuidado e sempre maltratados, foram transformados nos atuais colhas, que não enxergam um palmo adiante dos narizes de onde escorre um catarro curtido, sofrido, diuturnamente.
São fatores históricos como o acima citado que os levam, ainda hoje, a não dispor de sanitários em suas vivendas miseráveis e, por isto, à noite, urinam em garrafas e defecam em sacos plásticos que, pela manhã, são atirados em qualquer lugar ou, principalmente, nos rios Abunã e Acre, dentre outros. Em verdade, eles foram brutalizados na mais crua acepção da palavra.
Décadas e séculos escorrem por entre os dedos todos os dias. Lá, o tempo não passa ou passa muito lentamente. Algumas melhorias foram detectadas, em especial, porque uma parcela dos bolivianos herda caráter de ancestrais vindos do oriente ainda no início do século passado, além dos que vieram de Portugal ou da Espanha. Mas, ainda assim, melhoraram muito pouco ou quase nada.
Pior de tudo é que, desde algum tempo, eles só obedecem, de preferência, às ordens que tenham a ver com a violência que, bem ao inverso, tenta aplacar a ira de um povo historicamente violentado, injustiçado.
E, do lado de cá, ficamos nós na esperança quase desesperada de que um dia as coisas funcionem a contento, não apenas na Bolívia, mas também nos outros países de latino-américa, inclusive o Peru que, agora, acaba de eleger um militar aposentado cheio de marra, uma cópia tosca do Hugo Chávez, o venezuelano. Não. Mais uma vez, não vai dar certo.
Enquanto isso, nós vamos, gentilmente, tolerando os colhas solícitos, aqui, que nos batem à porta, em Rio Branco e demais cidades circunvizinhas, a vender quinquilharias de origem duvidosa... Da China! Até quando?
O outro chavista, Evo Morales, não hesita em fazer as coisas bem do jeito que gosta a massa de ignorantes que compõe a grande maioria da população da Bolívia. Porque esse louco quer dar foros de legitimidade ao roubo de carros brasileiros? Eles banalizaram o crime. Apoderar-se do que não é exatamente seu é costume hoje oficializado por um governo liderado por um plantador de cocaína.
O narcotráfico é a base da economia boliviana. (Ufa! Descobri a América!) A consciência foi roubada de uma parte maior da população por comerciantes que têm a base do seu negócio na venda de entorpecentes, inclusive os sintéticos. No comércio, a lavagem de dinheiro é feita à vista de brasileiros atônitos que, quando compram as amaldiçoadas quinquilharias, estão financiando, literalmente, os narcotraficantes que se escondem por trás de litros de uísque escocês, perfumes franceses, eletro-eletrônicos asiáticos de péssima qualidade, na maioria dos casos, e assim por diante.
Os acreanos precisam observar que, comprando os produtos chineses vendidos na Bolívia, estamos fortalecendo a economia da China, dando emprego para mais e mais chineses fabricarem as suas bugigangas. Ao passo que os produtos brasileiros, de ótima qualidade, são deixados de lado porque não observamos que, agindo assim, deixamos de empregar os nossos irmãos que passam anos e anos vivendo de biscates ou na informalidade. Abramos os olhos!
Dentre alguns comerciantes que exercem a sua atividade honestamente, poucos são os que escapam de ser veladamente extorquidos pelos mandões dos cartéis que fazem o que bem entendem porque o seu dinheiro sujo financiou a campanha do imbecil maior que preside aquela república erguida à custa de suor e talco.
Eles são tão desonestos que querem nos fazer crer que não precisam do consumo dos brasileiros. As nossas viagens de consumidores parvos e contumazes - como bem quer o capitalismo - para muitos deles, são perfeitamente dispensáveis. Eles fingem não saber que Cobija e adjacências sobrevivem porque há uns acreanos desavisados que correm riscos quando visitam aquele antro de tantos crápulas e de tão pouca gente de bem.
Um dia, no início dos anos 90, em Cobija, eu, a esposa e um dos filhos, acostumados à sinalização do trânsito no Brasil, entramos por uma rua na contramão. (Nenhum sinal estava visível.) Eram sete e trinta, mais ou menos, o movimento era mínimo, mas, de repente, surgiu um colha vestido de uniforme militar, com a maior cara de bêbado, e foi apitando sofregamente para que fôssemos para o acostamento. Não liguei para o homem da segurança e segui. Só parei em frente à Farmácia Flávia, onde fui socorrido por uma estimada amiga boliviana, neurologista, de maravilhosa índole.
Segundo ela, eu seria extorquido e pagaria valor considerável em dinheiro, se não quisesse ser humilhado pelo pústula, durante dois ou três dias de insultante custódia.
Ainda tem muita gente pensante por ali. Há, inclusive, alguns cambas - brancos ou descendentes de sírios e libaneses - que vieram buscar formação universitária no Brasil, mas estes se calam por temerem pelas próprias vidas que podem ser vituperadas pela loucura do senhor Morales.
Certo é que alguma autoridade boliviana um pouco mais inteligente deveria denunciar essas práticas extremamente abusivas contra brasileiros que compram quinquilharias a baixo preço, mas de qualidade péssima e sem nenhuma segurança, à exceção dos vinhos chilenos e de alguns uísques de origem duvidosa que ainda não foram batizados.
Eu sou bem tratado na casa do meu vizinho. Este também é sempre muito bem vindo à minha residência. Nós somos perfeitamente civilizados e nos tratamos muito bem. Do contrário, seria como aquela do sertanejo segundo a qual eu não vou na sua casa pra você não ir na minha, você tem a boca grande e vai comer minha farinha.
Nunca mais fui à Cobija. Não irei. Mas não sou preconceituoso. Sou um brasileiro originário desse caldeirão étnico-racial e cultural muito próprio do meu país. Não quero porque não gosto de ser maltratado por quem quer que seja.
Enfim, há males que só se curam com desprezo.
José Cláudio Mota Porfiro é irmão do Manoel do Gibiri.
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