Val Sales, jornal Página 20.
Coordenador do evento ressalta a importância da participação popular na formação de uma política nacional para o setor
O Acre se prepara para a maior discussão já vista a respeito da comunicação em todos os seus aspectos. Trata-se da Etapa Estadual da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, a ser realizada nos dias 30 e 31 deste mês na Usina de Arte João Donato. O evento acontece por determinação do próprio presidente da República, com vista na implementação e formação de uma política nacional do setor no país.
Por esse motivo, todos os Estados estão reunindo seus cidadãos em torno do tema “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital”. Esse tema se divide em três eixos temáticos, sendo eles Produção de conteúdo, Meios de distribuição e Cidadania: direitos e deveres. O coordenador comissão organizadora da conferência no Acre, Itaan Arruda, fala de forma detalhada sobre a importância da participação popular no debate.
Ele adianta que nunca o governo federal havia parado para ouvir a sociedade a respeito da comunicação, sendo que esse é o momento de o cidadão fazer a sua voz ser ouvida em todos os cantos do país. Na entrevista a seguir, Itaan Arruda dá detalhes do evento e de que forma as pessoas podem participar, ressaltando que o debate não está voltado exclusivamente para o jornalismo, porque possui uma abrangência maior da comunicação. Nesse sentido, o cidadão, seja doutor em letras ou dona de casa analfabeta, pode manifestar sua opinião, sugestão ou crítica inerente ao tema.
Qual o real motivo de o governo federal parar para ouvir o cidadão do país?
Essa conferência tem como finalidade, em primeira lugar, a formação de uma política nacional de comunicação. E esse objetivo partiu do governo federal, que precisa, em um ambiente de extrema mudança, no que se refere à comunicação, compreender o que está acontecendo no mundo, em relação ao setor, para poder formular políticas e ações de governo na área. Então, para que a comunicação pública, ou a comunicação feita pela iniciativa privada tenha eficiência, regras claras e focos, nós precisamos compreender o que está acontecendo no mundo para então planejar e formular ações de governo.
A conferência tem ligação com a área do jornalismo?
Nós vamos tratar, como o tema propõe, da comunicação como meio para a construção de direitos e cidadania na era digital e não exclusivamente de jornalismo. O jornalismo será objeto de análise e de discussão, mas, ele não é o foco principal, assim como a comunicação feita pelo poder público local também não é o foco das discussões. O que está em discussão é a comunicação de uma forma mais ampla, seja ela feita pela iniciativa privada, pelo poder público, entre as pessoas, pela internet ou por novas mídias. O que está em jogo é: como o surgimento de novas mídias podem contribuir para o fortalecimento dos direitos e promoção da cidadania.
Então, seria essa uma forma de maior compreensão da comunicação no Brasil?
Se a juventude está, via internet, criando coisas e exigindo dos meios tradicionais de comunicação uma nova postura, nós então temos que compreender para melhorar aquilo que nós estamos oferecendo. É importante que tenhamos a compreensão de que o tema proposto pela comissão nacional da conferência é muito mais abrangente do que simplesmente ficarmos focados no jornalismo.
Como será a participação do Acre na Conferência Nacional?
Nós temos que formular dez propostas para cada um dos eixos temáticos, somando um total de 30. O relatório final do Acre precisa demonstrar para o governo federal o que que o Estado pensa sobre comunicação seguindo esses três eixos: Produção de conteúdo, Meios de distribuição e Cidadania: direitos e deveres. O documento acreano tem que expressar essa vontade popular e isso vai ser feito na conferência nacional que acontece de 14 a 17 de dezembro em Brasília. No nosso encontro local (14 a 17) vamos eleger os delegados que irão à Brasília apresentar essas propostas.
Como as pessoas podem participar do debate?
Nós pensamos as mais diversas formas de as pessoas participarem desse debate. Primeiro, decidimos que haverá um debate transmitido ao vivo pela Rede Pública de Comunicação (TV Aldeia, Rádio Aldeia FM e Rádio Difusora Acreana), no dia 16, das 9h ao meio dia. A transmissão acontece ao vivo a partir da filmoteca da Biblioteca Pública para todos os municípios acreanos. Nela o cidadão vai poder participar por telefone, acompanhar via internet, mandar email, fazer suas críticas e sugestões. Nós estamos utilizando as mais diversas formas para que as pessoas possam se aproximar dessa discussão. Claro que não se trata de um trabalho simples, é complexo.
Esclareça melhor sobre essa questão...
Nós somos os únicos animais que conseguem estabelecer valores por meio da comunicação. De outra forma não teríamos como fazer isso. Nesse aspecto, esse tipo de discussão é tão importante para o Phd em filosofia quanto para a dona de casa. Ela também precisa se identificar com esse tipo de debate porque necessita dessa ferramenta para melhorar o seu dia-a-dia. Uma dona de casa que não consegue estabelecer uma comunicação mínima no meio familiar terá problemas. O Phd, por mais brilhante que seja, que não consegue estabelecer uma comunicação eficiente com seus alunos, também vai ter problemas.
Qualquer pessoa pode pedir para ser ouvidas na conferência?
Qualquer pessoa pode pedir para ser ouvida e será ouvida. Também pode participar por meio do debate público do dia 16 pelos telefones 3223-1702, 3223-6937 ou enviar mensagens para o email debate.com@ac.gov.br. Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email. Em resumo, a população vai ter as mais diversas ferramentas de comunicação para participar. Uma das características que essa conferência terá é a da transparência e da democracia. Nesse caso, o governador Binho Marques, tão logo soube da necessidade de realizarmos a conferência, se prontificou a realizá-la. Nem todos os Estados do país irão fazer isso, a exemplo do Amazonas, Rondônia e Santa Catarina, que é o próprio governo federal que vai realizar.
Como profissional da comunicação, o que o senhor espera do debate?
O meu desejo é que essa discussão sobre a comunicação não pare. Nós criamos um blog (confecom-acre.blogspot.com.) para para que esse debate se efetive. Por meio desse endereço nós vamos tentar alimentar a discussão de forma ininterrupta. É preciso que estudantes de comunicação, cientistas sociais, sociólogos e antropólogos possam contribuir com o debate de forma incessante. Não podemos nos mobilizar apenas para uma conferência, uma vez que a comunicação é algo que está sendo revisto dia-a-dia e precisa ser pensada no dia-a-dia.
Esse debate pode levar a uma nova visão da comunicação?
A reflexão sobre o assunto deve ser incessante. A conferência nos dá novo varadouro e precisamos agora cuidar desse caminho. Acho que, se o tema for bem compreendido, e se nós pudermos nos mobilizar em torno dele, ele não vai parar. Se a conferência fizer isso, então conseguirá realmente efetivar um bom serviço público. Não podemos nos dar ao luxo de perder essa oportunidade.
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