Marina Silva
Quero prestar uma homenagem a um conterrâneo que fez do seu ofício uma aula de poesia, classe e profundidade. Armando Nogueira, acriano e, assim como eu, filho de pais cearenses, aos 17 anos deixou nossa terra natal para deslumbrar-se com as belezas do Rio de Janeiro e ali fazer história no jornalismo brasileiro.
Armando morreu no dia 29, e desde então quero lembrá-lo neste espaço, mas uma agenda muito intensa vinha me impedindo de fazê-lo.
Não é que eu entenda muito de futebol, mas o suficiente para saber que ele sempre foi considerado um dos maiores - senão o maior - cronistas esportivos brasileiros. Ao lado de Nelson Rodrigues e Mário filho, ele encarnou, como nenhum outro, a alma do torcedor brasileiro.
Armando trouxe consigo a indelével marca do brasileiro, tendo como característica marcante a obstinação pela qualidade de seu ofício, sem deixar de lado a candura e a humildade de nosso povo. Teve a sorte de, na juventude, ver florescer a magia de um Pelé, para quem cunhou a definição cabal: "De tão perfeito, se não tivesse nascido gente, teria nascido bola".
O gosto pelo futebol tem lugar especial e cativo em minhas memórias infantis. Conforme já relatei aqui, nas noites de Ano Novo, e somente quando calhava de aparecer a lua cheia sobre os céus do seringal Bagaço, onde passei minha infância e adolescência, meu pai fabricava uma bola feita de puro látex - o que conferia ao jogo características mais lúdicas que esportivas - para jogarmos aguardando o novo ano. Éramos meninas bailando e pulando sob a luz do luar, em busca daquela esfera branca, mágica, a nos enfeitiçar.
Como cronista, poeta ou jornalista, o Mestre Armando Nogueira - como era chamado por todos - pôde revelar a sensibilidade de um homem tenazmente fiel aos valores que possuía. Não poderia, portanto, deixar de voltar seu olhar tão aguçado, como doce, à ecologia.
Em uma de suas últimas visitas ao Acre, em 2003, quando recebeu várias homenagens do governo e do povo acriano, Armando Nogueira revelou suas preocupações acerca da poluição das águas, bem como em relação à destruição da Floresta Amazônica: "O Acre é um pedaço da floresta onde se concentra a riqueza mais importante do século que se abre, que é a água. Por isso o Acre deixa de ser um Estado para ser uma causa".
Armando já disse certa vez que "o Acre é uma magia, um mistério". Concordo com ele integralmente. E ao relembrar sua trajetória e refletir sobre sua vida fecunda, posso enxergá-lo junto a mim e às minhas irmãs, em meio à floresta, não como gente, mas agora como bola, divertido e irrequieto, quicando cada vez mais alto, até alcançar o céu.
Recomendo a leitura do texto que Armando escreveu após sua visita ao Acre, em 2003: "O reencontro da infância" reproduzido pelo jornalista acriano Altino Machado, colega também aqui no Terra Magazine.
Marina Silva é professora de ensino médio, ex-ministra do Meio Ambiente, senadora do Acre pelo PV e colunista da Terra Magazine.
Um comentário:
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