Raimundo Cardoso, 64, que deixou o cargo de superintendente do Incra no Acre na semana passada para concorrer a cargo eletivo, quebrou o protocolo da cerimônia de entrega de títulos de uso de áreas de terra a ribeirinhos em Xapuri, nessa quinta-feira. Quando o chefe do cerimonial facultou a palavra aos componentes da mesa, da platéia o ex-guerrilheiro perguntou se apenas a “mesa” falaria.
Tomando a palavra ao final da solenidade, o agrônomo cearense que ganhou recentemente na justiça o direito de utilizar seu verdadeiro nome - Carlos Augusto Lima Paz, que trocara por Raimundo Cardoso para atuar na clandestinidade durante a ditadura militar, alertou os beneficiados com os novos títulos para uma “grande vergonha” ocorrida no passado quando o Estado fez regularização de posses.
Cardoso se referia ao caso das terras pertencentes ao fazendeiro Darly Alves, condenado como mandante da morte de Chico Mendes, que teriam aumentado gradualmente de tamanho através da aquisição de pequenos lotes vendidos a ele por agricultores que haviam obtido o título do governo federal. “Teve gente que recebeu o título num dia e no outro já foi ao cartório passar para o nome de Darly”, disse.
No caso do programa Nossa Floresta, que concedeu os títulos aos ribeirinhos de Xapuri, o alerta de Cardoso é desnecessário. Os colonos das margens dos rios possuem apenas uma autorização para o uso sustentável das terras, não podendo vendê-las a terceiros. A medida representa, inclusive, uma estratégia para impedir que as áreas dedicadas à agropecuária continuem se aproximando das margens dos rios.
Mais tarde, antes do almoço no restaurante Açaí, na pousada Chapurys, conversei brevemente com Cardoso. Contou sobre seu trabalho em defesa dos trabalhadores durante a ditadura e como conheceu Chico Mendes, a quem ajudou durante os preparativos para o empate de uma grande derrubada na fazenda Bordon, no começo da década de 1980. “Se eu estivesse aqui Chico Mendes não teria morrido”, garantiu.
Contou também que naquela mesma época, quando os ânimos estavam bastantes acirrados entre seringueiros e os fazendeiros do grupo Bordon, colocou balas em uma arma, pegou um jipe e tirou Chico Mendes de Xapuri. Levou-o para sua casa em Rio Branco, onde o líder sindical passou cerca de 15 dias descansando e estudando enquanto o clima acalmava por aqui.
2 comentários:
ei segui la o meu blog www.vozdesena.blogspot.com fixare grato com sua visita.
Conheço o Cardos a pouco tempo e ainda não sei de toda a sua vida, mais sei que ele tem lutado incansavelmente contra o poder repressor que ainda toma conta do nosso Estado e do nosso Pais, sou jovem e atuo em alguns movimentos juvenis(Pastoral da Juventude e Movimento Estudantil), sei como é dificil fazer algumas coisa por uma sociedade que esta acomodada e relachada que critica mais não busca por mudanças, e são pessoas como o Cardoso que fazem a diferença pois estão sempre preocupados em garantir o direito do povo a ter uma melhor qualidade de vida.
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