Posto, a seguir, entrevista feita para o portal Terra pelo jornalista Altino Machado com o senador Tião Viana, pré-candidato ao governo do Acre pelo PT.
O senador Tião Viana (PT-AC) poderá estar ocupando a cadeira de governador do Acre quando completar 50 anos, em fevereiro. Pré-candidato favorito nas eleições de outubro, o doutor em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília, nesse caso, estenderia de 12 para 16 ou 20 anos a permanência consecutiva do PT à frente do governo estadual. "É a mais longa representação do partido na política nacional", afirma.
Como liderança forte no Estado e conterrâneo da senadora Marina Silva, Tião Viana afirma que o nome da pré-candidata do Partido Verde (PV) à presidência da República é "sagrado" e, no momento, o "mais forte" no Acre. No entanto, ele se mostra cauteloso e afirma que a petista Dilma Rousseff reúne as "melhores condições para ser a presidente do Brasil".
Em entrevista ao Terra, o parlamentar trata sobre a hegemonia política no Acre, a disputa pela presidência da República no Estado e aborda a crítica ao presidente Lula feita após ser derrotado por José Sarney (PMDB-AP) no Senado. Confira abaixo:
Terra - Como o senhor avalia a escolha da ministra Dilma Roussef pelo presidente Lula para tentar sucedê-lo quando havia, digamos, profissionais da política no PT que poderiam ser candidatos e, quem sabe, obter melhor desempenho?
Tião Viana - O presidente Lula teve uma convivência intensa com a ministra Dilma. Ela vem de uma experiência na Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, no Ministério das Minas e Energia e na coordenação da gestão do governo Lula. Ela demonstrou as melhores impressões de um gestor para ele. Teve uma visão de Brasil, conseguiu fazer com que a máquina emperrada começasse a ter uma velocidade própria, além do controle de metas, prazos e resultados. Aos olhos do presidente, ela pareceu a mais bem preparada militante política que o governo tinha dentro de seus quadros e que envolvia o espectro partidário para cumprir esse desafio de levar adiante a gestão pública brasileira nos moldes apresentados pelo governo Lula. Trata-se de um projeto transformador da realidade nacional, que concilia crescimento, desenvolvimento e a distribuição de renda. Ela é o quadro mais bem preparado do Brasil hoje para dirigir as metas de um projeto de nação como foi apresentado no governo do presidente Lula. Foi essa a razão. Se ela não veio exatamente do quadro da representação pública partidária, mas tem origem no movimento de esquerda e correspondeu a todas as expectativas dele, é natural que ele tenha sido o primeiro a querer defender o nome dela como eventual candidata à presidência pelo PT.
Na disputa entre Marina Silva e Dilma Rousseff, quem vencerá no Acre?
Tião Viana - No Acre, Marina é símbolo das melhores qualidades pessoais. É uma figura que tem atitudes, que tem compromissos com valores essenciais da vida cristã, da vida pública e pessoal. Marina é um nome sagrado para nós, mas Dilma reúne as melhores condições para ser a presidente do Brasil hoje. O PT no Acre tem obediência e disciplina para fazer a campanha da ministra Dilma. Estou junto com o PT nessa caminhada, mas jamais vamos criar qualquer ferida que possa diminuir os valores especiais que a Marina tem para todos nós. Temos gratidão e respeito que são eternos para com o presidente Lula, o que não impede divergências como aquela que tive ao olhar para o Poder Legislativo. A Marina no momento é a candidata mais forte dentro do Acre. Ninguém aqui vai conseguir sacrificar o que ela tem de respeitável.
Terra - Mas quem vencerá no Acre?
Tião Viana - Não dá para prever eleição com seis meses de distância. É muito difícil qualquer previsão.
Terra - Como é ser um pré-candidato considerado imbatível para governador do Acre?
Tião Viana - Houve uma indicação do Partido dos Trabalhadores e meu nome será apresentado na convenção, tendo como vice César Messias (primo de Orleir Cameli), do PP, atual vice-governador. O PT disse que vai, além de meu nome para o governo, apresentar os nomes do ex-governador Jorge Viana e do deputado estadual Edvaldo Magalhães, do PC do B, para o Senado. Eu sempre pratiquei a vida e a própria política colocando a humildade como maior ponto de referência, ou seja, para mim ouvir e aprender com as pessoas mais simples, o que me envolve nas maiores lições. Se eu não estiver humildade, não estarei preparado para contribuir com as mudanças, para olhar para quem mais precisa no campo político. Quero sempre romper com qualquer gesto de vaidade e afastar qualquer coisa que possa dar idéia de uma vida fácil, de privilégios. Se o meu nome for mesmo apresentado, será para mediar um bonito debate sobre como nós vamos acelerar a diminuição das desigualdades no Acre. O projeto da Frente Popular do Acre tem sido transformador, tem sido um marco na nossa história porque tem compromisso com valores fundamentais. Tem origem lá na Teologia da Libertação, na formação das Comunidade Eclesiais de Base da Igreja Católica; tem origem no movimento dos sindicatos rurais, do movimento estudantil e do movimento intelectual dos professores e que rompeu com o tradicionalismo equivocado, que não tinha face e expressão de distribuição de renda pro Acre. Quero estar vinculado a esses valores, àquilo que vem de Chico Mendes e que a Frente Popular conseguiu reunir na sua história.
Terra - A Frente Popular do Acre, especificamente o PT, já governa o Acre há 12 anos. Qual será a sua inflexão?
Tião Viana - Existem eixos estruturantes que vamos levar como política de longo prazo e não fazem parte de um governo. Se o PT ganhar com os partidos que o apóiam esta eleição, existem eixos que não são desse próximo governo, mas que foram implantados no início da Frente Popular, nos governos Jorge Viana e agora, de Binho Marques. Foram avanços na infra-estrutura, na estrutura logística do Estado e na área social, especialmente na educação e na área florestal. Estamos reduzindo a pobreza 2% ao ano, saindo de último lugar na educação para nono, reduzindo o analfabetismo de 26% para 13%, derrubando a mortalidade infantil de 23 por 1000 para 18 por 1000, a economia floresta cresce. A base de produção equivocada que nós tínhamos, que era apenas a pecuária extensiva, está se mantendo neutra, sem desflorestamento do Acre. Nós estamos vivendo um fantástico caminho que está sendo construído. Como alguém pode querer romper com isso? É preciso levar adiante como política de longo prazo. Mas todo governo tem sua feição própria, suas atitudes e sua maneira de se apresentar para a sociedade, preservando os eixos de longo prazo e apresentando aquilo que são mudanças de curso, como costuma ser na vida de uma pessoa, de uma empresa ou de uma comunidade.
Terra - Caso o senhor seja eleito e reeleito, o PT terá completado 20 anos de permanência no governo do Acre...
Tião Viana - É a mais longa representação do partido na política nacional.
Terra - Repito a pergunta feita ao seu irmão, o ex-governador Jorge Viana: quando tanto poder terá fim?
Tião Viana - Quando se olha para o poder como instrumento do serviço comunitário, você está no bom caminho. Se você mudar, achando que pode estar no poder como uma espécie de emprego, de ambiente de vaidade, de estabilização de interesses pessoais, aí está equivocado. O PSDB está há 16 anos em São Paulo e ninguém fala que é um projeto envelhecido, embora o PSDB nunca tenha dito a que veio em 16 anos de governo. Não fez nada por São Paulo. Quando a gente olha para São Paulo, não existe expressão do que o PSDB fez. O PRI, no México, ficou 72 anos no poder e não foi questionado pela idade. O que é necessário é ter capacidade de estar identificado com os melhores valores da sociedade e romper com os seus erros. Não olho para a idade, mas para o fato de estar sendo útil para a sociedade.
Terra - Não existe risco dos Viana se tornaram no Acre o que os Magalhães se tornaram na Bahia?
Tião Viana - Não. Aqui nós rompemos com o coronelismo. Eu sempre fui claro com os dirigentes da Frente Popular: se um dia eu tiver que brigar com meus companheiros por representação, por espaço de poder, prefiro seguir minha vida de médico e de professor. Não estou na política por vaidade ou pelo poder. Estou para prestar um serviço comunitário, diminuir as desigualdades, melhorar a qualidade de vida e os indicadores sociais de nosso Estado, para garantir uma política de desenvolvimento sustentável, para olhar o meio ambiente e dizer que nós temos responsabilidade com a Amazônia. Nós vivemos no coração da Amazônia e muitas vezes não enxergamos esse jardim de Deus, como costuma dizer os padres Paolino Baldassari e Heitor Turrini. Quero estar inserido com esses compromissos. No dia que eu começar a me mostra diferente disso, prefiro estar recolhido e repensar a vida. Não estou na política para estar nela daqui há 10 anos. Estou porque ainda me acho útil aos meus companheiros e à minha comunidade organizada para prestar um serviço.
Terra - Após ser derrotado por José Sarney na disputa pela presidência do Senado, o senhor disse que o presidente Lula nada fez para evitar a desconstrução e a perda de autoridade moral do Congresso. Aquela foi uma crítica momentânea?
Tião Viana - O presidente Lula tem a mesma percepção de que o Brasil precisa passar por uma ampla reforma de procedimentos, de metas e de qualificação. Isso é da observação de qualquer analista político com o mínimo de sensatez. Se outras instituições avançaram muito no campo dos governos e do Judiciário, o Legislativo não deu os passos que precisa dar. Isso não é culpa de Lula ou de Fernando Henrique Cardoso. Como eu disse, o Lula não conseguiu fazer as reformas no Legislativo, mas é o maior presidente da história do Brasil. Portanto, aquele meu ponto de vista é um fato histórico que qualquer um observador honesto dirá o mesmo. Existe uma crise dentro do Poder Legislativo que precisa ser superada e não será superada sem a reforma política, o que depende do Congresso Nacional. Nós não podemos ter uma visão de filhos do presidente da República. A responsabilidade da agenda da reforma política é do Congresso. O governo Lula não conseguiu evitar aquele momento de crise que o Congresso vivia e ainda vive porque não deu os passos de compreender o ativismo social.
Terra - O senhor acha que tem sido incompreendido por causa disso?
Tião Viana - Talvez por um ou outro. Mas quando se afirma aquilo que é fato, quando se faz uma observação da história, pois ninguém nega a crise que viveu e que ainda vive o parlamento, isso não pode ser ofensivo a ninguém. O propósito não era ofender ou demonstrar qualquer ressentimento. Era apenas uma observação histórica.
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