Marina Silva
Na semana que passou, foi feita em Bonn, na Alemanha, mais uma tentativa de chegar perto de um patamar razoável para o acordo a ser assinado em dezembro, em Copenhague, que se constitui em nova etapa dos esforços mundiais, pós-Protocolo de Kyoto, para conter o aquecimento global. As impressões sobre os resultados da reunião ficaram entre o desânimo e o reconhecimento de avanços discretos.
O desânimo, segundo entendo, vem mais da aflição diante do ritmo lento desses avanços, insuficiente para o tamanho e a urgência do problema. Há mais duas rodadas de negociações até o final do ano: em Bancoc, na Tailândia, e em Barcelona, na Espanha. A pergunta é se farão diferença ponderável na atitude dos principais atores.
Os desafios centrais continuam sendo um compromisso mais forte por parte dos países desenvolvidos e a disposição dos emergentes -entre os quais o Brasil- de sair do discurso atual para metas voluntárias e propostas mais ousadas, que tensionem e mudem o tom do que parece ser uma conversa circular, incapaz de concretizar a redução de emissões de gases poluentes.
O necessário é algo em torno de 25% a 40% de redução, em 2020, em relação a 1990. Mas, apesar da boa notícia de semanas atrás, quando os países do G8 (clube dos desenvolvidos) acordaram em buscar metas globais para evitar que a temperatura média no planeta suba além dos dois graus Celsius, ainda não está clara e assumida a tarefa de cada um. O Brasil, particularmente, não pode esquecer que, numa situação em que a temperatura média global ultrapasse a barreira dos dois graus, ficará extremamente vulnerável, pois isso afetará diretamente o equilíbrio do sistema hídrico, base de nossa matriz energética limpa.
O Brasil é uma incógnita de peso para romper a conversa circular das negociações globais. Se apresentar, até o final do ano, uma meta de redução de suas emissões totais, tão relevante quanto foi o seu compromisso de redução de desmatamento, pode destravar o ambiente, pressionando tanto os países desenvolvidos quanto os demais emergentes a serem mais pró-ativos.
O tempo está se esgotando e ainda há um fosso enorme entre anúncios e atitudes. A cadeia de coerência entre uma coisa e outra apresenta falhas e vazios significativos. Enquanto isso, segue sem novidades a disputa tradicional de exigências mútuas de comprometimento e recursos. Recursos, como nos ensinou a crise financeira mundial, aparecem quando são necessários, desde que se queira. Já comprometimento real, não meramente discursivo, continua sendo artigo difícil no mercado global.
Fonte: Revista Digital Envolverde.
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