Carlos Estevão Ferreira Castelo
Xapuri, antes conhecida como a “princesinha do Acre”, hoje virou uma pobre plebéia. Isso é fato. O mais grave é a constatação de que Xapuri foi a cidade do interior que, nos últimos anos, reuniu as melhores e maiores oportunidades para se desenvolver. Entretanto, parece ter perdido o bonde da história. A título de ilustração da real situação do município destaco uma informação recente a que tive acesso, fornecida por autoridade policial: as “bocas de fumo” aumentaram de duas para vinte e quatro. Isso mesmo, vinte e quatro (em uma cidade com pouco mais de 14.000 habitantes). Há coisas que só acontecem com meu Botafogo e com Xapuri. A cidade mundialmente mais conhecida do Acre pede socorro, não sei para quem, mas pede.
A sensação que tenho quando estou em Xapuri é de que a população perdeu totalmente as esperanças no futuro. Em função disso, muitos estão mudando para a capital ou estão indo fixar residência em Brasiléia. No meu caso, estou chegando ao absurdo de evitar ir até Xapuri nos finais de semana, mesmo sob protestos de dona Aurélia e seu Estevão que ainda moram por lá. É que quando anoitece e vejo minha cidade totalmente deserta, me dá um aperto no peito que não tem como descrever. Uma melancolia, sei lá... A cidade parece fantasma, ninguém circula pelas ruas, não existe opções de lazer, um bom restaurante ou pizzaria, nada. Apenas as drogas lícitas e ilícitas oferecidas aos jovens xapurienses sem esperança. A cidade mundialmente mais conhecida do Acre pede socorro, não sei para quem, mas pede.
Esporte e cultura para a população, nem pensar. Até o tradicional campeonato xapuriense de futebol parou de acontecer. Sem falar nos desfiles de “sete de setembro” que acabaram por completo. Findou também a famosa “boateca” para a moçada jovem, que sempre acontecia aos domingos como uma espécie de aperitivo para a “boate”, logo após a missa das 19h00min. A cidade mundialmente mais conhecida do Acre pede socorro, não sei para quem, mas pede.
A infra-estrutura está precária, a administração atual parece ter perdido totalmente o senso de estética como afirmou o bom xapuriense Zé Cláudio Mota Porfírio em recente artigo no “Pagina 20”: “...é ruim ver o calçamento em frente à Igreja de São Sebastião, uma obra de arte, ter sido destruído; assim como é triste ver aquela porcaria que ficou a Praça do Terminal Rodoviário, hoje um aglomerado de botequins de mau gosto”. Por incrível que pareça em Xapuri os espaços públicos estão sendo privatizados, como a Praça da “Coronel Brandão” onde um boteco foi erguido exatamente no local de um canteiro de flores. O “mercado dos colonos”, em frente da maçonaria, é outro exemplo: nos finais de semana um botequim funciona em suas dependências. A cidade mundialmente mais conhecida do Acre pede socorro, não sei para quem, mas pede.
O comércio está na UTI, o extrativismo tradicional sem perspectivas, as famosas fábricas construídas pelo Governo que gerariam milhares de empregos e renda ainda não funcionaram pra valer (a de “pisos” faliu antes de iniciar a produção e a de “camisinhas” ainda patina com as “desculpas verdadeiras” do Governo de que falta autorização da ANVISA). Até o festival de praia, no dia que acontece faz um frio danado. Como disse, existem coisas que só acontecem com Xapuri e com o Botafogo. A cidade mundialmente mais conhecida do Acre pede socorro, não sei para quem, mas pede.
O mais grave é que, em Xapuri, comumente escuto as pessoas reclamando muito do prefeito atual, do anterior, da Zona Franca Boliviana, da Zona de Livre Comércio de Epitaciolândia, do Governo do Estado que se esqueceu da cidade após a eleição de Wanderley Viana, etc. Ou seja, a situação do município para a maioria da população é culpa de tudo e de todos, menos deles próprios que, acomodados, esperam que alguém resolva as coisas. É hora de virar o jogo, antes que seja tarde.
Para virar o jogo, e depois vencer de goleada, o primeiro passo é a população mudar de atitude. Em seguida, deve-se iniciar o processo de construção coletiva daquilo que chamo “visão positiva de futuro”. Mas para isso é preciso lideres, matéria-prima escassa atualmente “pelas bandas de lá”. Que saudades de Chico.
Carlos Estevão é xapuriense e professor de Teoria Econômica da UFAC.
Um comentário:
Carlos Estevão.
Que saudade de nossa época estudantil no Colégio Divina Providência. Que saudade ainda do cinema , da boateca, da bandinha de música aos domingos na pracinha em frente a minha casa, dos campeonatos de futebol, quando o meu pai dirigia O VASCO DA GAMA, das festas juninas na quadra de esporte, dos bailes, enfim que saudade e de tudo que a nossa geração passou que com certeza contribui muito para nossa formação.
Há Três anos não vou à Xapuri e há muitos anos já havia notado a decadência da cidade nas áreas culturais, econômicas e principalmente na política.È realmente preocupante e dramática o futuro desse município que teve boas oportunidades para o crescimento. Mas ainda há tempo , basta uma administração responsável e que a trate com muito carinho, que resgate ou crie novas situações para o desenvolvimento, afinal a comunidade merece .e o primeiro passo pode acontecer nas próximas eleições
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