Leonardo Torres
O Brasil está cada vez mais demente: presidente
com sentimento persecutório e contra vacina, senador fugitivo escondendo o
dinheiro nas nádegas, candidatos canastrões que fazem estripulias para chamar
atenção e conquistar votos. Enquanto isso, a fome e a miséria aumentam, as
matas são incendiadas e as mortes pelo COVID-19 não cessam. E ainda, a
aprovação do presidente cresce, por ter implementado um auxílio emergencial que
não foi ele quem planejou.
Nem mesmo Kafka, Huxley, Saramago ou Shakespeare sequer imaginariam escrever um
romance comparável ao que nosso país passa neste momento. Não somente porque os
personagens que atuam no palco político são peculiares, mas também porque o
público que os assiste atuar - os eleitores - também estão cada vez mais
dementes.
A palavra "demente" provém "da-mente". Aqui exclui-se
qualquer conotação pejorativa da palavra. Vale lembrar Edgar Morin quando
afirma que o ser humano é Sapiens e Demens, ou seja, pautado tanto pela
racionalidade quanto pelas emoções e pela mente.
Apesar da neurociência já ter provado que é impossível separar a racionalidade
das emoções, temos que tomar cuidado para não cair em racionalismos. De acordo
com E. Morin, o racionalismo é uma razão tendenciosa, autoritária e paranoica,
ou seja, são aquelas justificativas simples e fáceis de se entender que
normalmente elegem e projetam suas emoções em um inimigo. Por exemplo: as fake
news nas últimas eleições para presidente promoveram em grande parte da
população brasileira um contágio desses racionalismos e suas emoções projetadas.
É possível escapar desse circo? Não, mas é possível e importante incluir nesta
equação a variável da consciência e da racionalidade (sem ismos). Estas são
responsáveis pela reflexão crítica dos acontecimentos atuais. E aquela frase de
C. Jung: "até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua
vida e você vai chamá-lo de destino", coloca a responsabilidade desse
circo demente de eleitos e eleitores nas mãos dos cidadãos. Nós, brasileiros,
devemos saber se vamos continuar batendo palmas e incentivando os eleitos a
dançar ou se usaremos nossas mãos para votar corretamente.
Leonardo Torres, 30 anos, é psicoterapeuta junguiano e palestrante.
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