Nesse domingo (18), retornei às minhas origens. Seringal Novo Catete, margem esquerda do rio Acre, um lugar perdido no tempo mas bem guardado na minha memória. Foi ali que vivi os primeiros anos de minha vida, e de onde saí com 7 anos de idade para estudar em Xapuri, no final da década de 1970.
Daquilo que deixei para trás, pouca coisa reconheci. As ruínas da antiga escola Epaminondas Martins e as mangueiras que envolviam o barracão onde morávamos. Mesmo assim o reencontro com o passado foi muito forte para mim. Confesso que segurei no peito o choro que pedia para sair.
A emoção maior foi encontrar a cruz que marca o exato local onde o corpo de meu velho pai, vitimado por um infarto fulminante, foi encontrado há 28 anos que serão completados no próximo dia 24 de agosto. Ele morreu quando reunia o comboio de burros para mais uma das infindáveis viagens ao “centro” do seringal.
Meu pai se chamava Antônio Firmino da Silva e dedicou os 24 últimos anos de sua vida a esse pedaço de terra, pertencente à firma Abib Kalume, cujo dono era o ex-governador do Acre e ex-senador da República Jorge Kalume. Não era meu pai biológico, mas me criou desde o primeiro ano de vida como se meu sangue corresse em suas veias e o dele nas minhas.
Antônio Firmino foi um exemplo de vida fantástico, um professor extraordinário, sem possuir nenhuma escolaridade, mas dono de toda a sapiência necessária para mostrar o caminho correto a ser seguido na vida. Órfão de pai, foi seringueiro ainda menino. Aos 11 anos de idade já cortava algumas estradas, pela necessidade de ajudar no sustento de mãe e irmãos.
Depois se tornou comboieiro, mercador dos seringais, responsável pelo aviamento dos seringais Novo Catete e Porto Franco. Tinha a ambição de ficar rico com aquele trabalho insano, duro, de sol a sol. Porém, seringueiro de origem que era, nunca possuiu a má fé nem a ganância comuns a quem, ao contrário dele, conseguiu acumular alguma riqueza e poder.
O único patrimônio que conseguiu amealhar foi um terreno que comprou em Xapuri no ano de 1978 para que eu e minha irmã, Francisca, pudéssemos vir para a cidade, estudar. Construiu a casa, comprou as mobílias, geladeira a querosene, sofá e uma televisão em preto e branco da marca Telefunken, uma das poucas coisas que prendiam a sua atenção longe do seringal.
Ligou luz elétrica, instalou telefone e cavou um poço. Mas ele mesmo jamais pensou em fixar residência na cidade. Não gostava da “rua”. Era nosso hóspede nos finais de semana. Voltava sempre para o Novo Catete, onde queria morrer, como morreu. Só não precisava ser tão precocemente.
Depois da morte de meu pai, em 1982, jamais havia retornado a esse lugar tão importante na minha vida. Fiz isso nesse domingo sem planejamento algum. E não teria conseguido tal proeza sem a ajuda de última hora do trio acima: Raimundinho Castelo, Chico do Peroba e seu cunhado Meique Moreira. Muito grato a todos vocês.
Uma boa semana para todos nós.
4 comentários:
Parabéns Raimari pelo saudosismo. Fatos como esses contados por vc são para nunca esquecer.
Faz a correção:
Os textos sempre saem melhores quando são impulsinados pela força do coração.
Parabéns!
Parabéns, Raimaire, por nos proporcionar a oportunidade de conhecer um pouco de sua história e de suas origens. Me fez até lembrar da minha história e da história de minha familia. É mto bom guardar recordações como essas e valorizar bons momentos como esses. Momentos que não voltam mais, mais que estarão guardados para sempre em nossos corações.
FIQUEI MUITO EMOCIONADO AO VER ESTA HISTORIA QUE TAMBEM FASSO PARTE POR TER OUVIDO TANTAS VEZES DE MINHA MAE E DA VOVÓ ZIZI OBRIGADO POR NOS COMPARTILHAS ISSO SINTO MUITO ORGULHO DE SER SEU SOBRINHO!!!
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