O artigo abaixo foi enviado pelo cirurgião dentista e colaborador eventual do blog, Eduardo de Souza. Numa realidade onde teoricamente o concurso é o único caminho para se adentrar ao serviço público (na prática sabemos que isso não é verdade absoluta) o texto pode ser útil a quem resolva “deliberar” por essa opção. Um bom dia a todos e boa leitura.
Sylvio Motta
Deliberar fazer um concurso demanda uma opção por uma modalidade de vida que envolve uma rotina pautada pelo sacrifício diário da ausência. Talvez aí resida o maior desafio, a ausência.
A ausência significa perder momentos de convivência com as pessoas de quem se gosta.
Todavia para isso dar certo se torna necessário que a ausência seja verdadeira. Que ela comece com disciplina e que, lentamente se torne uma virtude. A diferença entre a virtude e a disciplina é que a primeira é espontânea e a segunda forçada.
O verdadeiro candidato vira um ausente presente, mais ausente do que presente, frise-se. Ele está e não está ao mesmo tempo. Está em casa, mas enquanto todos estão assistindo o desfile das escolas de samba, ele estuda. Enquanto todos vão à praia, ele fica saboreando o silêncio que passa a imperar no ambiente.
O ausente é um herói! Longe de ser um “herói do Bial” que tão presentes se ausentam de si mesmos, o nosso herói é tão anônimo quanto valente. A diversão está ali, tão fácil, ao alcance da mão, basta fechar os livros e enveredar por mundo de prazerosas distrações. No entanto, ele estoicamente resiste. Resiste até mesmo às provações maldosas daqueles que por não compreenderem sua odisséia, escarneiam de sua opção pela introspecção.
Mesmo quando o barulho ensurdecedor das gargalhadas, dos risos, dos surdos e das cuícas o cercam, ele resiste bravamente e mantém a concentração nos estudos.
A recompensa, no entanto, surge no final, quando todos exaustos pelo vazio existencial que se insinua ao final de um grande desperdício de tempo com energias deletérias, ele sai fortalecido pela aquisição de novas informações e, principalmente, por ter se vencido.
Sylvio Motta é professor de direito constitucional há mais de 24 anos, editor de concursos da Campus/Elsevier e autor de várias obras.
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