
O Carnaval 2010 em Xapuri já virou cinzas. Restaram a ressaca e as costumeiras reclamações e críticas dos foliões contra os promotores da festa. Sobraram também os elogios, é verdade, à organização e à ornamentação do evento, segurança, iluminação e etcetera e tal.
Uns reclamaram do repertório, que trazia axé demais e marchinhas de menos. Uma das bandas que tocou em Xapuri nem mesmo instrumentos de sopros possuía. Outros estão reclamando até agora do excesso de “falação” nos intervalos entre as bandas.
Mas unanimidade mesmo somente quanto ao horário de encerramento da folia na última noite, às 4 horas da manhã, quando os foliões estavam no auge da alegria e da diversão. Revoltados, os brincantes entonaram um sonoro coro de vaias contra os músicos e contra o prefeito Ubiracy Vasconcelos, que não estava lá para ouvir o apupo.
Este blogueiro não brincou nem apreciou uma noite sequer do Carnaval Ecológico, e disso não se arrepende. Mas, como linguarudo que é, desde que o assunto seja de interesse público - que isso fique bem claro - vai dar palpite e meter o bedelho no trabalho alheio.
Para mim as vaias contra os músicos são injustas. Eles encerraram a folia por ordem da organização que, por sua vez, recebia pressão da polícia que, por sua vez, alegava fazer cumprir a portaria baixada pelo prefeito estabelecendo os horários de término da fuzarca.
Merecedores das vaias são aqueles – que a carapuça se encaixe nas cabeças em que couber – que ainda não compreenderam que o carnaval é uma festa popular, tendo o povo todo o direito de opinar e de participar das decisões acerca da organização, repertório das bandas e, é claro, dos horários de funcionamento da folia.
Nos antigos e saudosos carnavais de Xapuri, nos tempos do Bilhar e depois Assemux, a folia ia até às 4 horas da manhã nas três primeiras noites, e se encerrava, na última, às 7 horas da manhã, com o sol brilhando, no simbólico e festejado enterro do carnaval, que ocorria na praça Getúlio Vargas ou na praça São Sebastião, arrastando centenas de pessoas rua afora.
Nos dias de hoje, além do carnaval de Xapuri ter perdido toda a sua tradição e magia, nos deparamos com uma total falta de bom senso e excesso de má vontade de um punhado de gente que em pleno século 21 ainda vislumbra demônios e maldições por trás daquilo que representa apenas um dos poucos momentos em que o sofrido povo brasileiro pode extravasar a sua alegria de viver, apesar de não possuir muitos motivos para isso.
Nas reuniões da prefeitura com a segurança pública, que sempre antecedem as festas, todo ano é o mesmo samba-enredo: decide-se à revelia do povão tudo o que vai acontecer, inclusive os benditos horários de início e término dos eventos. Na atual mentalidade dos pensadores da segurança, festa é sinônimo de violência, onde menos tempo de festa representa, simples assim, menos criminalidade, menos brigas, menos sangue. Pura balela.
Nesta lógica, para não haver ocorrências policiais, a população deve ficar em casa, confinada, lendo a Bíblia ou assistindo os desfiles das escolas de samba. Essa ideia, perversa e cerceante do direito do cidadão, tem sido disseminada há algum tempo e tem servido para pressionar os organizadores de eventos, inclusive o maior de todos, a prefeitura, a estabelecer, via decreto, limites de horários que desagradam sobremaneira a população.
Foi assim com os bares, onde o sujeito que passa toda a semana trabalhando para recolher 40% do que ganha aos cofres do governo não pode permanecer após a meia-noite nos dias úteis ou um pouco mais tarde nos finais de semana. Tem sido assim com as festas noturnas e tem sido assim com o carnaval, de época ou fora de época. Tudo, segundo eles, para o próprio bem do cidadão.
Ora bolas, entendo eu que o cidadão xapuriense tem direito à segurança onde quer que esteja e em que hora for. Para isso pagamos os impostos que pagam as polícias e os políticos que deveriam - os primeiros - nos proteger sem reclamar e - os segundos - criar meios eficazes para nos fazer felizes. Como nem um nem outro cumpre bem o seu papel, que deixem o folião amanhecer o dia, que seja ao som de axé, marchinhas ou samba-enredo.
Atualização: Segue, em rima, o bem humorado comentário do leitor Maxsuel sobre o Carnaval Ecológico de Xapuri:
Como foi bom o carnaval em Xapuri…
Como foi bom ver minha cidade cheia
rever velhos amigos e brincar o carnaval
como foi bom ver a festa ornamentada
a segurança reforçada e um clima fraternal
Que bom foi ver o sempre afinado Nader de volta ao palco
e os "frutitos" (Frutos da Terra) dando um show de alto-astral
Nem tão bom assim estavam os banheiros
a qualidade do som, será que era do Bial? (Bial Som)
Quanto ao horário de encerramento
uma vergonha, autoritarismo banal
Não preciso da polícia, nem do prefeito, sou maior, vacinado
e sei bem que horas terminar meu carnaval.
Entre elogios e críticas, salvaram-se todos,
Como foi bom o carnaval em Xapuri.