Infelizmente, não é o que ocorre. Restringir a circulação
de ideias e atacar a liberdade de expressão são práticas antigas que perduram
até os dias atuais. São promovidas por indivíduos que passam a acreditar que
apenas são válidas as informações ou opiniões que favoreçam os seus interesses
pessoais, sejam políticos ou de qualquer outra natureza. Se pudessem, restringiam
até o pensamento.
Passa por aí a minha recente remoção do quadro do Sistema
Público de Comunicação do Acre, depois de 31 anos de serviços prestados ao rádio. Solicitada
por políticos de boa-fé duvidosa e seus pupilos mimados, a medida foi endossada
pelo governo do estado, na pessoa da secretária de comunicação Silvânia
Pinheiro, por quem, até então, eu mantinha uma relação sincera e respeitosa. De
minha parte, a sinceridade e o respeito prosseguem.
Silvânia nada tem contra mim e muito menos contra a maneira
com que eu fazia meu trabalho nas rádios Difusora e Aldeia em Xapuri. Pelo
menos foi isso o que ela me afirmou por diversas vezes. Mas pressionada pelo
filho do deputado Antônio Pedro, Aílson Mendonça, que sonha em ser prefeito da cidade, achou por
bem me deportar da Secom, apesar de haver garantido anteriormente que essa
prática nefanda não ocorreria no governo de Gladson.
Quem acompanhou meu trabalho nas emissoras de rádio dos
Sistema de Comunicação do Acre sabe que, mesmo tendo liberdade para isso, não sou crítico e muito menos tenho má
vontade com o atual governo. Por sinal, passei até a admirar a figura do
governador pela maneira gentil e atenciosa com que que me atendeu nas poucas oportunidades em que
precisei o entrevistar. Não quero também desviar o foco para o governo, pois a
raiz da perseguição política que sofro e que me impede de desempenhar minha função
de radialista está enraizada em Xapuri.
Ocorre que o meu entendimento de rádio pública é o de que
ela tem o objetivo e a obrigação de atender as demandas da sociedade por
informação e ser o canal por meio do qual a população pode levar até o governo as
suas reivindicações sobre os problemas que muitas vezes são desconhecidos do
próprio governador. A base do meu trabalho sempre foi essa, seja com relação ao
governo do estado ou com o município.
E a perseguição contra mim começou exatamente no instante
em que fiz seguidas reportagens sobre a falta de médicos no hospital de Xapuri.
Não em tom de denúncia, que em minha opinião não é próprio de rádio pública,
mas identificando as deficiências e buscando explicações junto à gerência do
hospital e da Sesacre e, mais do que isso, apresentando propostas e abrindo
espaço para que os moradores da cidade participassem do debate.
Como o diretor do hospital de Xapuri, João Honorato Cardoso,
é nomeado por indicação do deputado Antônio Pedro, o grupo político que se arvora
a dono da estrutura estatal no município se abespinhou e foi iniciada uma onda de
perseguições e ameaças relacionadas a minha retirada dos microfones das
emissoras de rádio do governo. Cheguei a ser chamado duas vezes à Secom em
razão dessa situação, para mim, vexatória e humilhante.
Outra razão do descontentamento dos donos do partido Democratas
– vejam que ironia – em Xapuri é um trabalho colaborativo que faço para o site
ac24horas. As matérias que versam sobre a conjuntura política atual os deixam
de cabelos em pé por uma razão muito simples: o projeto político deles está desbarrancando
em razão de uma estratégia baseada em perseguição à aqueles que possuem posição
política contrária.
Estão atônitos com a manifestação da população via
levantamentos internos que hoje colocam o MDB como o principal adversário do
prefeito petista Bira Vasconcelos, favorito a se reeleger. Os emedebistas já haviam rachado com a dupla
pai e filho em razão da má distribuição dos cargos pelo novo governo. Agora, os
antigos aliados não desejam dialogar com eles também porque estão mais bem avaliados
e demonstram que, mesmo em uma possível reconciliação, não abrirão mão da
cabeça de chapa.
A minha retirada das rádios agrada a essa gente por uma
razão também muito simples: eles sabem que a troca de ideias, as discussões e a informação
imparcial encoraja a sociedade a mudar aquilo que se mostra como ineficiente
para a cidade, como é o caso do próprio mandato do deputado, que mesmo tendo
sido renovado não mostra resultados produtivos, em minha opinião, mas que logo a própria
sociedade terá uma nova chance de se manifestar a respeito, quando o pupilo do parlamentar disputar a prefeitura.
Eles sabem que a liberdade de expressão limita o abuso de
poder que tem se manifestado em Xapuri pela caça a pessoas que ocupam cargos
provisórios nos órgãos estaduais, a maioria com remuneração em torno de um
salário mínimo, para serem substituídas por paus mandados dessas figuras que,
com esse comportamento, apenas têm cultivado a ojeriza e a repugnância de muita
gente, além de jogar pra baixo a popularidade do governo que dizem defender. Setores do governo estão sendo transformados em verdadeiros currais e o
que eu denuncio aqui não é nenhuma novidade. Todo mundo sabe disso.
A verdade é que essa manifestação pornográfica de perseguição política tornou Xapuri menor. A grandiosidade que
a cidade possui por sua história, pela tradição de formar grandes brasileiros, por
ainda ser um dos lugares mais pacatos do Acre, de gente honesta e ordeira, está sendo substituída pela
pequenez da ambição política, pela perda de valores morais, como o caráter e o
respeito pelas pessoas, pela arrogância e prepotência de gente que possui
sérios problemas de baixa autoestima e que busca sanar a falta de amor próprio praticando
tiranias com base em um suposto poder ilusório e efêmero.
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