João Baptista Herkenhoff
Consolidar a ideia
de Direitos Humanos é uma exigência para que a Humanidade possa sobreviver sem
se desnaturar.
Constatamos, no
leque das culturas que se espalham pelo orbe terráqueo, um “núcleo comum
universal de Direitos Humanos”. Este “núcleo comum” corresponde aos “universais
linguísticos” descobertos por Chomsky.
Na visão de algumas
pessoas, os Direitos Humanos são uma utopia, coisa de poeta que não tem os pés
na terra. Nisto de colocar o rótulo de utopia nos Direitos Humanos, os que
pensam desta forma estão certos. A meu ver, o equívoco está em supor que a
utopia é sonho irrealizável.
A utopia é a
representação daquilo que não existe ainda, mas que poderá existir se o homem
lutar para sua concretização. É a consciência antecipadora do amanhã.
A primeira função
do pensamento utópico é favorecer a crítica da realidade. (Pierre Furter). As
utopias propõem aos homens os meios para proverem seu destino à luz de uma
visão global do desenvolvimento histórico. (Ernst Bloch).
Para que a utopia
seja força progressista, é preciso transformar as aspirações em militância.
O presente pertence
aos pragmáticos. São eles os vitoriosos de hoje. Frequentam as manchetes dos
jornais, as chamadas da televisão, as revistas de celebridades. Supõem que seu
êxito é eterno. Enganam-se. Talvez na próxima geração ninguém nem saiba lhes
declinar o nome.
A competição gera
um progresso conflitivo e desumano. A cooperação é que pode produzir o
verdadeiro progresso, em benefício de todos e não apenas em proveito de alguns.
A felicidade de um
povo mede-se por indicadores muito mais profundos do que o simples consumo,
ainda mais esse consumo que alcança somente uma fração da coletividade.
Sempre foi a utopia
que moveu a História. Tomás Morus, Campanella, Marx, Teilhard de Chardin,
Kierkegaard, Gabriel Marcel, Ernest Bloch, Roger Geraudy, Martin Luther King,
Che Guevara, Tiradentes, Frei Cameca, Dom Hélder Câmara foram alguns dos
grandes utopistas que alimentaram a caminhada dos homens na busca de uma
existência compatível com sua dignidade.
Dizer que a utopia
morreu é assinar carta de abdicação à face das forças poderosas que comandam
este mundo.
É preciso alimentar
a Utopia com a nossa Fé, em todos os espaços sociais onde possamos atuar:
construir a utopia em nosso país, em nosso Estado, em nosso município, em nosso
bairro, em nosso local de trabalho.
A edificação da
utopia não é obra de uma só geração. Temos de fazer o que cabe ao nosso tempo e
transmitir o bastão aos que vierem depois de nós.
João Baptista Herkenhoff é
Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor.
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