Nesta quinta-feira, 10 de abril, Xapuri recorda com saudade e profunda gratidão a partida de Antônio Assad Zaine, o inesquecível "Prezado". Há dez anos, a "Princesinha do Acre" perdia um de seus mais dedicados cronistas, um homem que, embora nascido longe destas terras, abraçou a história e a cultura local com uma paixão contagiante, tornando-se um pilar fundamental na preservação da memória da cidade e de todo o Acre.
Durante muitos anos, para quem visitava Xapuri, uma parada na Casa Kalume era uma imersão na própria história do município. A antiga casa aviadora, outrora coração do comércio de borracha que impulsionou a economia local, transformou-se, pelas mãos de um visionário, em um vibrante centro de memória.
Foi o paulista de Corumbataí, Antônio Assad Zaine, carinhosamente apelidado de "Prezado" pela comunidade, quem viu nesse espaço adormecido o potencial para resgatar e apresentar as ricas narrativas que moldaram Xapuri.
Chegado ao Acre em 9 de julho de 1954, a convite do primo Jorge Kalume, o jovem Antônio encontrou aqui não apenas a beleza da região, mas um lar. Xapuri o cativou, e ele retribuiu esse afeto com mais de meio século de dedicação incansável.
Enquanto o modelo comercial da aviação declinava, "Prezado" percebeu a urgência de preservar os vestígios desse passado glorioso e da vida cotidiana que o acompanhava.
Com a persistência admirável de quem ama o que faz, Antônio Zaine preencheu esse vazio, transformando a Casa Kalume em um museu informal, um tesouro de elementos da vivência acreana.
De forma cronológica e intuitiva, ele organizou um acervo que narrava a trajetória da cidade, desde a chegada dos primeiros nordestinos até os eventos contemporâneos, passando pelo marco da Revolução Acreana.
Entre as paredes carregadas de história, conviviam rifles "papo-amarelo" da Revolução, instrumentos dos seringueiros, artefatos indígenas, a elegância de vasos europeus e a simplicidade de ferros de passar à brasa e fogões a lenha, objetos que evocavam o modo de vida dos antepassados.
A atenção de "Prezado" estendia-se também à memória impressa, com uma impressionante coleção de recortes de jornais e revistas antigas, testemunhas dos acontecimentos políticos e sociais que marcaram a história de Xapuri e do Acre, incluindo registros visuais raros do desenvolvimento da cidade.
À medida que o acervo crescia, impulsionado pela generosidade dos moradores que confiavam a "Prezado" seus objetos antigos, o espaço da Casa Kalume tornou-se insuficiente. Com a mesma dedicação, ele expandiu o museu para o antigo armazém de borracha e para a casa de sua sogra, transformando cada item encontrado em uma valiosa peça de memória.
A luta inglória de Antônio Zaine para oficializar a Casa Kalume como museu era um reflexo de seu compromisso em garantir a perenidade desse legado. Seu desejo era ver o espaço adequado e preservado para as futuras gerações. Seu trabalho e amor por Xapuri e pelo Acre transcenderam as fronteiras locais, sendo reconhecidos em todo o Brasil.
Dez anos passados da sua partida, o legado de Antônio "Prezado" Zaine, infelizmente, reside mais na memória de algumas pessoas atentas ao valor do trabalho realizado por ele que na antiga Casa Kalume. Em 2015, o ano em que Xapuri lamentou a perda do querido "Prezado", a cidade enfrentou uma dura realidade: a maior enchente do Rio Acre em sua história. A força das águas impiedosas invadiu a antiga casa aviadora e, tragicamente, destruiu grande parte do acervo que ele havia reunido com tanto esmero ao longo de décadas.
Contudo, Antônio Zaine permanece vivo na lembrança das pessoas, nas muitas histórias que ficaram, como uma das personagens mais importantes da cidade que o adotou como um de seus filhos mais ilustres. Sua dedicação, mesmo sendo um "forasteiro" de nascimento, demonstra que o amor por uma terra e sua história não conhece fronteiras, mas se enraíza na alma daqueles que escolhem abraçá-la. Xapuri e o Acre jamais esquecerão o guardião incansável de sua memória: o Prezado Antônio Zaine.
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