quinta-feira, 10 de abril de 2025

De forasteiro a guardião da memória: Xapuri recorda o legado do "Prezado" Antônio Zaine

Nesta quinta-feira, 10 de abril, Xapuri recorda com saudade e profunda gratidão a partida de Antônio Assad Zaine, o inesquecível "Prezado". Há dez anos, a "Princesinha do Acre" perdia um de seus mais dedicados cronistas, um homem que, embora nascido longe destas terras, abraçou a história e a cultura local com uma paixão contagiante, tornando-se um pilar fundamental na preservação da memória da cidade e de todo o Acre.

Durante muitos anos, para quem visitava Xapuri, uma parada na Casa Kalume era uma imersão na própria história do município. A antiga casa aviadora, outrora coração do comércio de borracha que impulsionou a economia local, transformou-se, pelas mãos de um visionário, em um vibrante centro de memória. 

Foi o paulista de Corumbataí, Antônio Assad Zaine, carinhosamente apelidado de "Prezado" pela comunidade, quem viu nesse espaço adormecido o potencial para resgatar e apresentar as ricas narrativas que moldaram Xapuri.

Chegado ao Acre em 9 de julho de 1954, a convite do primo Jorge Kalume, o jovem Antônio encontrou aqui não apenas a beleza da região, mas um lar. Xapuri o cativou, e ele retribuiu esse afeto com mais de meio século de dedicação incansável. 

Enquanto o modelo comercial da aviação declinava, "Prezado" percebeu a urgência de preservar os vestígios desse passado glorioso e da vida cotidiana que o acompanhava.
Com a persistência admirável de quem ama o que faz, Antônio Zaine preencheu esse vazio, transformando a Casa Kalume em um museu informal, um tesouro de elementos da vivência acreana. 

De forma cronológica e intuitiva, ele organizou um acervo que narrava a trajetória da cidade, desde a chegada dos primeiros nordestinos até os eventos contemporâneos, passando pelo marco da Revolução Acreana.

Entre as paredes carregadas de história, conviviam rifles "papo-amarelo" da Revolução, instrumentos dos seringueiros, artefatos indígenas, a elegância de vasos europeus e a simplicidade de ferros de passar à brasa e fogões a lenha, objetos que evocavam o modo de vida dos antepassados. 

A atenção de "Prezado" estendia-se também à memória impressa, com uma impressionante coleção de recortes de jornais e revistas antigas, testemunhas dos acontecimentos políticos e sociais que marcaram a história de Xapuri e do Acre, incluindo registros visuais raros do desenvolvimento da cidade.

À medida que o acervo crescia, impulsionado pela generosidade dos moradores que confiavam a "Prezado" seus objetos antigos, o espaço da Casa Kalume tornou-se insuficiente. Com a mesma dedicação, ele expandiu o museu para o antigo armazém de borracha e para a casa de sua sogra, transformando cada item encontrado em uma valiosa peça de memória.

A luta inglória de Antônio Zaine para oficializar a Casa Kalume como museu era um reflexo de seu compromisso em garantir a perenidade desse legado. Seu desejo era ver o espaço adequado e preservado para as futuras gerações. Seu trabalho e amor por Xapuri e pelo Acre transcenderam as fronteiras locais, sendo reconhecidos em todo o Brasil.

Dez anos passados da sua partida, o legado de Antônio "Prezado" Zaine, infelizmente, reside mais na memória de algumas pessoas atentas ao valor do trabalho realizado por ele que na antiga Casa Kalume. Em 2015, o ano em que Xapuri lamentou a perda do querido "Prezado", a cidade enfrentou uma dura realidade: a maior enchente do Rio Acre em sua história. A força das águas impiedosas invadiu a antiga casa aviadora e, tragicamente, destruiu grande parte do acervo que ele havia reunido com tanto esmero ao longo de décadas.

Contudo, Antônio Zaine permanece vivo na lembrança das pessoas, nas muitas histórias que ficaram, como uma das personagens mais importantes da cidade que o adotou como um de seus filhos mais ilustres. Sua dedicação, mesmo sendo um "forasteiro" de nascimento, demonstra que o amor por uma terra e sua história não conhece fronteiras, mas se enraíza na alma daqueles que escolhem abraçá-la. Xapuri e o Acre jamais esquecerão o guardião incansável de sua memória: o Prezado Antônio Zaine.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Tesouro sonoro do início do Século XX em Xapuri

Esta relíquia pertence ao acervo de João Mendes, o Garrinha, e está em exposição no relicário instalado na Pousada Chapurys, de sua propriedade. Apaixonado pela história de Xapuri, Garrinha se dedica a resgatar objetos valiosos que muitas vezes se encontram esquecidos em velhos depósitos e fundos de quintal. É reconhecido como uma espécie de guardião da memória da cidade, mantendo viva a conexão entre o passado e o presente.

A peça rara é um fonógrafo original da marca Victrola, fabricado pela Victor Talking Machine Company, fabricado entre 1904 e 1907, nos Estados Unidos. Com sua imponente corneta externa dourada e base de madeira esculpida, representa uma das primeiras formas de reprodução sonora mecânica doméstica — muito antes da era do rádio e dos tocadores eletrônicos.

O logotipo com o famoso cão "Nipper" ouvindo a voz do dono no gramofone — registrado em 3 de fevereiro de 1904 — é um símbolo clássico da história da música gravada, conhecido como "His Master's Voice".


Este tipo de aparelho tocava discos de 78 rotações por minuto e funcionava inteiramente de forma mecânica, com corda, sem uso de energia elétrica. É conhecido como gramofone externo ou external horn phonograph, muito comum entre 1901 e 1909, antes da popularização das Victrolas com gabinete.

Com base no estilo da corneta, no braço de reprodução e na base de madeira, o aparelho é muito provavelmente um dos modelos do tipo Victor Monarch ou Victor Type M, fabricados por volta de 1904 a 1907. O logo na placa com o cão “Nipper” e a inscrição “3 de Febrero 1904” também confirma que é um aparelho desse período.

As fotos mostram um fonógrafo com corneta externa grande de metal dourado, montado sobre uma base de madeira esculpida. Isso indica que não é uma Victrola tradicional (com corneta embutida), mas sim um modelo mais antigo da própria Victor Talking Machine Co., ou até anterior ao nome “Victrola” ser usado comercialmente (em 1906). Sem nenhuma dúvida, uma raridade histórica. 


Ainda faltam informações adicionais a serem obtidas com o João Garrinha, como a quem o aparelho pertenceu, por exemplo, e como ele adquiriu a raridade - o que pretendo obter em breve nas costumeiras conversas durante o café da manhã. 

Mais do que um equipamento, este fonógrafo é um testemunho vivo do início da indústria fonográfica e da magia do som no século passado. Uma verdadeira joia da memória musical — que passou a fazer parte, também, da história de Xapuri.

'Xapuri Agora!' resiste ao tempo

Para aqueles que acompanharam a  trajetória da comunicação em Xapuri ao longo dos anos, o nome
 Xapuri Agora!, certamente evoca boas lembranças. Por um longo período, esta página se tornou um ponto de encontro virtual, um espaço dedicado a narrar as múltiplas facetas da nossa querida Xapuri e do Acre. Aqui, a cultura local tinha destaque em cada relato, personagens ganhavam vida em seus "causos", a história se desvendava em suas nuances e o cotidiano se tornava notícia e reflexão por meio de vários colaboradores.

Para mim, como profissional da comunicação, especialmente no rádio desde a mais tenra idade, o blog Xapuri Agora! foi mais que um projeto que me fez tornar um pouco conhecido: foi um laboratório de ideias, um palco para dar voz à nossa gente e um elo fundamental com a rica tapeçaria que compõe a identidade xapuriense. Ver essa página se tornar referência para outros veículos de comunicação do estado, quando o assunto era Xapuri, encheu-me de orgulho e reforçou a convicção da importância de mantermos viva a chama da nossa história e cultura.

O avanço tecnológico e a ascensão das novas mídias trouxeram consigo novos hábitos e plataformas. A praticidade do smartphone, inegavelmente, redirecionou o fluxo da informação, e o ritmo frenético das redes sociais, por vezes, ofuscou o espaço dos blogs tradicionais. Xapuri Agora!, naturalmente, sentiu esse impacto, permanecendo online, mas com o ritmo de publicações diminuído.

No entanto, a paixão por Xapuri e o desejo de continuar compartilhando suas riquezas nunca se apagaram. É com essa motivação renovada que anuncio um retorno discreto a este espaço que tanto significa para mim. Não será um retorno com a mesma frequência de outrora, mas sim com publicações pontuais, focadas em destacar o que faz de Xapuri uma das cidades mais importantes do Acre: sua história marcante, sua cultura vibrante e, acima de tudo, a força e a beleza da sua gente.

Essas novas publicações encontrarão eco nas redes sociais, alcançando novos públicos e reacendendo a memória daqueles que já acompanhavam o Xapuri Agora!. O objetivo permanece o mesmo: celebrar Xapuri, seus encantos e sua gente.

Convido a todos a ficarem atentos. Em breve, novas histórias de Xapuri voltarão a circular, unindo o legado deste espaço com o alcance das novas mídias. Afinal, Xapuri continua a inspirar, e suas histórias merecem ser contadas e compartilhadas. O agora de Xapuri pulsa forte, carregando consigo a riqueza de seu passado e a promessa de um futuro promissor para todos nós. 

Não sei até quando o Google manterá o Blogger no ar, mas enquanto essa página existir, ela será uma fonte receptiva a quem buscar por informações sobre Xapuri, essa terra mais do que especial para mim e para tanta gente.