Há mais de duas décadas, um movimento que tem origem em uma pequena comunidade acreana chamada Sibéria, no lado oposto do rio Acre, em Xapuri, intercala momentos de ebulição e de hibernação, mas se mantém vivo no anseio de estimados dois milhares de moradores da região e compartilhado por um outro bom tanto de habitantes do município.
A aspiração dos moradores da Sibéria acreana é pela
construção de uma ponte sobre o rio Acre, ligando o hoje bairro à área central
da cidade. A histórica dificuldade da travessia, antes feita apenas pelas
tradicionais catraias e atualmente reforçada por uma pequena e precária balsa metálica
mantida pelo governo do estado, por meio do Deracre, cresce a cada dia e enerva
os usuários.
A ponte é hoje, ao mesmo tempo, a maior reivindicação do
município e a maior promessa do governo para Xapuri. Já teve investimentos
anunciados em ato oficial e o governador já disse, na cidade, que se não fizer
a obra ou pelo menos não a iniciar no atual mandato muda de nome. Apesar disso,
o ânimo dos xapurienses vem arrefecendo com o passar dos anos.
Ocorre que nem de longe, apesar de sua inegável
importância, a sonhada ponte sobre o rio Acre representa o que Xapuri mais
precisa. Ela é, em verdade, a ilusória redenção de uma cidade que segue sendo
extremamente maltratada pelo tempo, que é implacável, e pela política, que ao
contrário do que deveria fazer, a tem mantido entre a estagnação e a
decadência.
A terra de Chico Mendes sofre hoje duas grandes deficiências,
além de outras tantas que são comuns aos demais municípios do interior acreano.
A primeira é a falta de um hospital com estrutura mínima para atender a demanda
de um município de 20 mil habitantes e a segunda a ausência de uma rede de
esgotamento sanitário que sane os problemas decorrentes dessa grave
necessidade.
O “além de outras tantas” citado acima, no caso de Xapuri
se refere a muita coisa, no que tange às necessidades mais básicas negligenciadas
por todas as esferas administrativas - da displicência com a oferta de
medicamentos aos mais necessitados, passando pela péssima coleta e destinação
do lixo à falta de investimentos de peso na infraestrutura local.
Se a ponte da Sibéria não for entendida como mera parte de um processo longo e contínuo de investimentos públicos que possam, pouco a pouco, mudar a cara da cidade e melhorar a vida de seus moradores, seguiremos nessa estafante rotina de ilusão e de promessas vazias que se renovam a cada eleição, alimentado um ciclo vicioso de bajulação e pajelança.
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