sábado, 14 de agosto de 2021

“Ponte da Sibéria”, a redenção ilusória de uma Xapuri maltratada pelo tempo e pela política

Há mais de duas décadas, um movimento que tem origem em uma pequena comunidade acreana chamada Sibéria, no lado oposto do rio Acre, em Xapuri, intercala momentos de ebulição e de hibernação, mas se mantém vivo no anseio de estimados dois milhares de moradores da região e compartilhado por um outro bom tanto de habitantes do município.

A aspiração dos moradores da Sibéria acreana é pela construção de uma ponte sobre o rio Acre, ligando o hoje bairro à área central da cidade. A histórica dificuldade da travessia, antes feita apenas pelas tradicionais catraias e atualmente reforçada por uma pequena e precária balsa metálica mantida pelo governo do estado, por meio do Deracre, cresce a cada dia e enerva os usuários.

A ponte é hoje, ao mesmo tempo, a maior reivindicação do município e a maior promessa do governo para Xapuri. Já teve investimentos anunciados em ato oficial e o governador já disse, na cidade, que se não fizer a obra ou pelo menos não a iniciar no atual mandato muda de nome. Apesar disso, o ânimo dos xapurienses vem arrefecendo com o passar dos anos.

Ocorre que nem de longe, apesar de sua inegável importância, a sonhada ponte sobre o rio Acre representa o que Xapuri mais precisa. Ela é, em verdade, a ilusória redenção de uma cidade que segue sendo extremamente maltratada pelo tempo, que é implacável, e pela política, que ao contrário do que deveria fazer, a tem mantido entre a estagnação e a decadência.

A terra de Chico Mendes sofre hoje duas grandes deficiências, além de outras tantas que são comuns aos demais municípios do interior acreano. A primeira é a falta de um hospital com estrutura mínima para atender a demanda de um município de 20 mil habitantes e a segunda a ausência de uma rede de esgotamento sanitário que sane os problemas decorrentes dessa grave necessidade.

O “além de outras tantas” citado acima, no caso de Xapuri se refere a muita coisa, no que tange às necessidades mais básicas negligenciadas por todas as esferas administrativas - da displicência com a oferta de medicamentos aos mais necessitados, passando pela péssima coleta e destinação do lixo à falta de investimentos de peso na infraestrutura local.

Se a ponte da Sibéria não for entendida como mera parte de um processo longo e contínuo de investimentos públicos que possam, pouco a pouco, mudar a cara da cidade e melhorar a vida de seus moradores, seguiremos nessa estafante rotina de ilusão e de promessas vazias que se renovam a cada eleição, alimentado um ciclo vicioso de bajulação e pajelança.

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