João Baptista Herkenhoff
O ato de presentear tem coerência com o sentido do Natal. É costume
antigo, inspirado no episódio bíblico dos Reis Magos, que levaram ao berço do
Cristo, como oferenda: ouro, incenso e mirra. No ano passado fui contemplado com quatro livros capixabas. Vou mencionar
título e autor das obras, pela ordem cronológica do recebimento:
1) Grãos de Areia, de Matusalém Dias de Moura (crônicas);
2) Memória Repartida, de Getúlio Marcos Pereira Neves (romance);
3) Às margens do Itapemirim, de Ariette Moulin (crônicas);
4) Problemas e curiosidades da Língua Portuguesa, de José Augusto
Carvalho (estudos gramaticais).
Na orelha de “Grãos de Areia”, Aylton Rocha Bermudes escreveu que
o autor “está indelevelmente preso às suas raízes da Serra do Caparaó, em seu
Irupi natal, seu Iúna, que ele ama, exalta, critica, defende. Seu jeito de
escrever é este: coloquial, direto, simples, quase ingênuo, com sabor do café
tomado com broa de milho, ali, junto do fogão.”
O romance de Getúlio Marcos Pereira Neves tem como cenário o município
de Colatina das décadas de 30 e 40. Mistura-se, no correr das páginas, o autor
como ficcionista e como magistrado. As personagens desenhadas pela obra têm
sabor interiorano. Desfilam pelo livro: António Victorino d’Almeida, maestro;
Doutor Belmiro Mariaga, chefe politico local; Honório Jácomo, escrivão; Rick,
cabelereiro; Quinoto, comerciante, e sua talvez infiel esposa Cotinha; Pedro,
dono do bar Drink’s; Antídio Marcolino, viúvo inconsolável de Dona
Rigoberta; Tião Matoso, fazendeiro; professor Menezes Filho, o historiador da
região, e sua mulher Arminda.
No livro de Ariette Moulin, o rio Itapemirim é a personagem central:
“Ele passa encachoeirado, cantando dia e noite. No periodo de estiagem, está
tão seco que aparece espremido entre as pedras, mas sempre oferecendo suas
águas.”
O rio dialoga com a autora, encorajando-a nos momentos de desânimo:
“Olhe para mim. Sempre corro para a frente e não olho para trás. As pedras do
caminho eu as contorno e sigo cantando, pois o meu destino é o mar.”
”Problemas e curiosidades da Língua Portuguesa” é um mergulho do
linguista José Augusto Carvalho no universo do idioma. O livro trata de
dificuldades cotidianas (virgula e ponto e vírgula, abuso do gerúndio, plural
dos nomes próprios, colocação pronominal) e também de algumas questões
particularmente interessantes, resolvidas com objetividade e didática, virtudes
que fazem da obra um guia seguro para todos mas, de maneira especial, para
estudantes que enfrentam exames vestibulares e para cidadãos que se lançam em
concursos públicos.
João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado e
escritor. E-mail: jbpherkenhoff@gmail.com
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