Guilherme Maluf
Dia 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres. Uma data comemorativa que carrega todo o simbolismo e história de luta de séculos pelos direitos das mulheres. Nesse dia, no ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve para reivindicar a redução de um horário de mais de 16 horas diárias de trabalho, para 10 horas. Recebiam apenas um terço do salário que era pago pelo mesmo serviço aos homens. Resistiram até o fim trágico. 130 mulheres morreram queimadas em um incêndio duvidoso. A garra dessas mulheres prevalece até hoje no espírito de luta das nossas mulheres.
Não existe mais espaço para aqueles que ainda insistem em questionar a fundamental importância delas em todos os segmentos, e isso é fruto de todo um processo de conquista que começou lá atrás. Aqui em Mato Grosso, não posso deixar de citar mulheres exemplos como Lígia Borges. Nasceu em Bauxí, modesto Distrito de Rosário Oeste, e se tornou a primeira prefeita eleita de Mato Grosso. Governou Rosário de 1947 até 1949. E como não falar de Serys Marly, senadora por Mato Grosso que foi a primeira mulher a assumir a presidência do Senado, mesmo que interinamente. Cada uma em sua época, essas duas mulheres mostraram que até mesmo na política, o caminho estava aberto para ser conquistado.
Realizarei, com a vênia de meus pares, dia 17 próximo, a Sessão Solene em homenagem às Mulheres. Acredito ser importante que a Assembleia Legislativa de Mato Grosso dê voz para que, além das homenagens, as mulheres possam refletir sobre suas conquistas, seus avanços e retrocessos nos mais diversos nuances da existência. E ir além. Construir mecanismos para que a conquista dos direitos seja alcançada.
Tramita na Assembleia projeto de minha autoria que reserva às mulheres 50% das liberações de financiamento das instituições de crédito do Governo do Estado. Ainda está em análise da Casa, mas ilustro como um exemplo de que nós, parlamentares, podemos agir para acelerar a igualdade de direitos. O contexto do sistema ainda resiste em vários pontos sobre esse processo, porém, como homens públicos, temos que atuar mais incisivamente, propondo leis que garantam a igualdade.
Precisamos ir além do glamour, da pompa e do viés romântico, nada contra os mesmos; porém, é preciso que discutamos, por exemplo, a representatividade feminina no parlamento; o aleitamento materno no trabalho (como médico, entendo que quanto mais tempo a mãe amamenta, mais sadia é a criança), renda e escolarização, violência doméstica, sexualidade, entidades de defesa dos direitos femininos, empregabilidade, assédio sexual e moral, ampliação da assistência médica e laboratorial (a lei garante exames como mamografia, senografia, mastografia e preventivos ginecológicos, mas na prática isso acontece?), políticas públicas de inclusão que privilegiem o gênero, garantias de acesso a bens culturais etc.
Dói mais saber que, por vezes, as mulheres não exigem seus direitos por desconhecê-los ou ignorar as lutas para conquistá-los. Se, na atualidade, ainda persistem as discriminações, as múltiplas formas de violência e a intolerância; já foi muito pior. Então é preciso que se saiba do passado para que construamos um presente e um futuro mais justos socialmente.
Vejamos alguns fatos:
Apenas em 1827 as mulheres brasileiras puderam ir às escolas de ensino elementares. Em 1879, as mulheres brasileiras puderam fazer um curso superior (as que se aventuravam eram discriminadas pela sociedade). 1885, Chiquinha Gonzaga, compositora, estreia como maestrina (aliás, já que estamos em pleno reinado de Momo, foi ela quem escreveu o primeiro samba carnavalesco do país "Oh abre alas").
Só em 1887, formou-se nossa primeira médica, Rita Lobato Velho. Em 1927, a professora Deolina Daltro inicia a campanha pelo direito ao voto e em 1927, no Rio Grande do Norte, 15 (isso mesmo, quinze) mulheres votam; depois seus votos foram anulados; contudo, Alzira Soriano de Souza é eleita prefeita de Lages. Em 1932, na Era Vargas, as mulheres conquistam o direito de votar, no mesmo ano a nadadora Maria Lenk torna-se a primeira brasileira a participar de uma olimpíada. Em 1933, elegeu-se a assembleia nacional constituinte, dos 214 deputados, apenas uma mulher: Carlota Pereira de Queiroz. Como é difícil decidir o que não dizer. O que silenciar diante da limitação do espaço gráfico.
Mas como não dizer que, em 1948, Simone de Beauvoir publica o livro "O Segundo Sexo". Ou que, em 1951, a OIT aprova a mesma remuneração para homens e mulheres que exercessem a mesma função. Como não dizer que o nosso maior tenista é, na verdade, nossa maior tenista: Maria Esther Bueno que, em 1960, foi campeã do Grand Slam, nas simples e nas duplas, além de ter conquistado 589 títulos internacionais. Em 1990, Júnia Marize é eleita senadora. Em 1998, Roseana Sarney elege-se governadora e, para não me alongar mais, o Brasil é presidido por uma mulher. Ficaram muitas lacunas históricas, foi impossível...
Mulheres cuiabanas e mato-grossenses, percebam quanta diferença e como vocês, ao longo da história, lutaram para que o universo feminino fosse melhor ou, ao menos, aceitável. Da condição grega de "res" (coisa) ao comando de nações. Das fogueiras medievais às universidades do mundo; da morte na concepção ao parto sem dor... mulher, como é bela a tua caminhada por a forjaste na luta, assim, em teu dia digo: - hoje é teu dia, amanhã, também e todos os outros dias, até o fim dos tempos.
GUILHERME MALUF é médico, filho, pai, esposo e deputado estadual pelo PSDB (MT).
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