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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Quem são os nossos ídolos?

Maria Meirelles

O Rio Branco Futebol Clube anunciou, com pompas e celebrações, a contratação do goleiro Bruno Fernandes, assassino condenado de Eliza Samúdio. A modelo foi assassinada, esquartejada e, segundo investigações, teve seus restos mortais servidos aos cães, como alimento. O caso, à época, chocou o país.

Condenado a mais de 20 anos de prisão pelo sequestro, assassinato e ocultação do cadáver de Eliza Samúdio, em julho de 2019, Bruno recebeu autorização judicial para ir ao regime semiaberto e deixou a cadeia.

Bruno ainda não cumpriu a pena. É um feminicida que zomba do crime cometido. Recentemente, fez propaganda de um canil e, agora, é anunciado como ídolo no estado que lidera o ranking de homicídios e feminicídios de mulheres, o Acre.

Sou a favor de um sistema educacional que trate e ressocialize homens autores de violência, a exemplo do Programa Ser Homem, desenvolvido no governo de Tião Viana. A iniciativa oferecia aos homens, que foram ou estavam sendo acusados da prática de violência doméstica, acompanhamento psicológico e social.

O machismo e a violência contra as mulheres têm raízes profundas em nossa cultura, o processo educacional é fundamental para a mudança de paradigma.

Bruno deve e pode ser ressocializado, como diz a legislação. Mas, é inadmissível que seja tratado como ídolo do esporte e ocupe um lugar de destaque, influenciando jovens e gerações. A contratação dele é no mínimo desrespeitosa com as mulheres do Acre.

A opressão enfrentada pelas mulheres, no Brasil, é tamanha que temos que engolir um presidente que exalta torturador/estuprador [me refiro ao amor de Bolsonaro por Ustra], uma sociedade que nos culpa pela violência sofrida e um time que idolatra feminicida.

Maria Meirelles é jornalista e feminista.

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